Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - O Fundo Monetário Internacional reduziu a projeção de crescimento para o Brasil em 2020 para 2% e avaliou que os desequilíbrios fiscais do país são um dos fatores que vão contribuir para manter a atividade econômica na América Latina com expansão anual abaixo de 3% no médio prazo.
No relatório Perspectiva Econômica Global, divulgado nesta terça-feira, o Fundo estimou que o Brasil deve crescer um pouco mais em 2019 do que o projetado anteriormente, mas mostrar uma recuperação mais fraca no ano que vem.
O Fundo destacou a necessidade de uma ambiciosa agenda de reformas no país para impulsionar o crescimento, bem como a manutenção da política monetária expansionista.
O FMI vê agora crescimento de 0,9% do Brasil em 2019, um aumento de 0,1 ponto percentual em relação à estimativa feita em julho, na atualização de seu relatório.
Entretanto, para 2020 o organismo cortou sua previsão para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) a 2,0%, de 2,4% antes.
"No Brasil, a reforma previdenciária é um passo essencial para garantir a viabilidade do sistema de seguridade social e a sustentabilidade da dívida pública", alertou o FMI no relatório, destacando que mais consolidação fiscal gradual será necessária para atingir o teto de gastos nos próximos anos.
Os números estão em linha com os do mercado. A mais recente pesquisa Focus do Banco Central mostrou que os economistas consultados veem uma expansão de 0,87% do PIB em 2019, indo a 2,00% em 2020.
Entre a agenda de reformas necessárias, o Fundo destacou a reforma tributária, a abertura comercial e o investimento em infraestruturas.
"A política monetária deve permanecer expansionista para sustentar o crescimento econômico, desde que as expectativas de inflação permaneçam ancoradas", disse o FMI.
A taxa básica de juros Selic foi reduzida em setembro em 0,50 ponto, para 5,50% ao ano, nova mínima histórica, com o BC indicando de forma explícita novo alívio monetário. No Focus, a expectativa é de que os juros terminem o ano a 4,75%.
O FMI passou a prever ainda inflação no Brasil de 3,8% em 2019 e 3,5% em 2020, ante respectivamente 3,6% e 4,1% na estimativa de abril. Os valores estão bem abaixo do centro da meta oficial, que é de 4,25% em 2019 e de 4% em 2020, ambos com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Para o déficit em transações correntes, o FMI estima que ele será de 1,2% do PIB em 2019, melhor do que a estimativa de rombo de 1,7% calculada em abril. Para 2020 a previsão é de déficit de 1,0%. A taxa de desemprego no Brasil, por sua vez, deve ficar segundo o Fundo, em 11,8% este ano, recuando a 10,8% no próximo.
AMÉRICA LATINA
Para a América Latina e Caribe, o FMI reduziu com força suas expectativas, vendo um crescimento de apenas 0,2% em 2019 e de 1,8% em 2020, recuos respectivamente de 0,4 e 0,5 ponto percentual sobre julho.
Para essa revisão, o FMI citou principalmente problemas na oferta do setor de mineração do Brasil e fraqueza do investimento e consumo privado no México. À frente, a expectativa é de uma aceleração limitada.
"Na América Latina, o crescimento deve aumentar em relação ao 1,8% projetado para 2020, mas permanecer abaixo de 3% no médio prazo já que a rigidez estrutural, períodos fracos de comércio e desequilíbrios fiscais (principalmente no Brasil) pesam sobre as perspectivas", completou o FMI.
Já os mercados emergentes e em desenvolvimento devem acelerar o crescimento de 3,9% em 2019 para 4,6% em 2020.
"Cerca de metade disso se deve a recuperações ou recessões mais rasas em mercados emergentes como Turquia, Argentina e Irã; e o resto a recuperações onde o crescimento desacelerou significativamente em 2019 na comparação com 2018, como Brasil, México, Índia, Rússia e Arábia Saudita", explicou o FMI.