O futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, assume o cargo em janeiro de 2025. Havia uma preocupação de que o indicado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fosse um nome mais tolerante à inflação alta em troca de juros menores. Economistas consultados pelo Poder360 dizem que esse receio passou, porque a nova gestão deve ser marcada por um posicionamento contracionista na política monetária –ao menos a curto prazo.
Alex Agostini, da agência Austin Rating, avalia que Galípolo não deve abrir mão de um currículo “limpo” para dar espaço à queda nos juros. Os chefes das autoridades costumam migrar para o mercado financeiro quando deixam o cargo. Portanto, seria interessante ter um histórico satisfatório.
“São 4 anos de mandato. Só que o cara ainda tem uma vida inteira profissional pela frente. Não pode enterrá-la em 4 anos para atender os anseios e egos do governo federal”, diz Alex.
O especialista afirma que um presidente da autoridade monetária sem viés técnico prejudica a carreira. Citou como exemplo Alexandre Tombini, indicado por Dilma Rousseff (PT) para comandar o órgão de 2011 a 2016.
“Não creio que ele vai se curvar às pressões políticas, porque a gente já viu que no passado o resultado dessa postura é um ônus gigantesco, e que mata o profissional que fizer isso. A Alexandre Tombini, por exemplo, demorou para poder se reerguer de novo”, declara.
Economistas avaliam que Dilma e Tombini queriam igualar a taxa básica Selic aos patamares internacionais. O governo, entretanto, apresentou um descontrole fiscal. A inflação cresceu mais que o esperado. Naquela época, o Banco Central ainda não era autônomo.
Gabriel Galípolo engajou em um discurso de aperto nos juros pouco antes de ser indicado à presidência do Banco Central. Ele é diretor de Política Monetária do órgão e votou com o atual presidente, Roberto Campos Neto, em 9 das 10 reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária) que participaram. O encontro de setembro foi marcado pelo aumento na taxa básica de juros.
Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimentos, diz que a atitude de Galípolo mostra uma aparente vontade de seguir uma decisão técnica. Avalia que os juros devem continuar a subir nas reuniões seguintes até a inflação se alinhar às expectativas.
“Ele se provou já, pelo menos por enquanto, ser uma pessoa mais alinhada com o Banco Central, com os membros recentes”, declarou Evandro.
O profissional da Rio Bravo diz que esse deve ser o movimento a curto prazo. Por outro lado, para ele, ainda é preciso esperar como o mandato se encaminhará antes de fechar uma decisão. Menciona também ser necessário ficar de olho nos outros diretores que Lula precisa indicar em 2024, em especial o que substituirá Galípolo na Política Monetária.
“Galípolo, no curto prazo, vai continuar com essa cartilha. Se pegar os últimos 4 ou 5 presidentes do Banco Central, fariam a mesma coisa diante do cenário de inflação desancorada”, declara.
Alex Agostini afirma que Galípolo precisa assumir um perfil mais fechado e cauteloso quanto às declarações em 2025. Para o economista da Austin, é o padrão de um chefe da autoridade monetária.
“Quando o presidente do Banco Central fala, mexe com as expectativas de mercado. Ele sabe que, dependendo da fala dele, pode piorar a própria gestão –o que seria um tiro nos dois pés– ou melhorá-la”, diz.
Galípolo foi secretário-executivo do Ministério da Fazenda antes de ser diretor. Na prática, era o número 2 de Fernando Haddad. Alex diz que a experiência no campo da política traz uma característica ao futuro presidente: mais abertura no Congresso Nacional.
“O Galípolo tem uma passagem para o setor público, mesmo que curta, em cargos técnicos. Ele terá um melhor trânsito no Congresso Nacional do que tinha Campos Neto. É algo adicional e eu vejo como positivo”, declara.
SELIC & INFLAÇÃO
A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Influencia diretamente as alíquotas que serão cobradas de empréstimos, financiamentos e investimentos. No mercado financeiro, impacta o rendimento de aplicações. Atualmente, está em 10,75% ao ano.
Uma das formas de controlar a inflação é aumentar os juros. O crédito mais caro desacelera o consumo e a produção. Como consequência, os preços tendem a não aumentar de forma tão rápida.
O Banco Central tende a elevar o indicador quando os preços não convergem para o objetivo. A função da autoridade é colocar a inflação no centro da meta, de 3,0%.
O QUE DEFENDE GALÍPOLO
O diretor de Política Monetária foi sabatinado no Senado Federal em 8 de outubro. Leia abaixo o que falou na ocasião:
- política monetária – disse que “teria coragem” de seguir uma decisão técnica caso seja pressionado pelo presidente Lula;
- meta de inflação – defendeu que o Banco Central não participe da definição. Segundo ele, é “estranho” que a autoridade defina um objetivo que terá de cumprir;
- bets – declarou que a autoridade monetária não tem atribuição de regulamentar as casas de apostas;
- inflação – a expectativa desancorada “incomoda” a autoridade, afirma. Mencionou mais de uma vez a economia aquecida acima do esperado como uma das principais preocupações em relação ao índice de preços.