Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - A inadimplência no mercado de crédito brasileiro subiu em abril, ao mesmo tempo em que a taxa de juros média avançou num mês que registrou tímido aumento do estoque total de financiamentos, conforme dados divulgados pelo Banco Central nesta quarta-feira.
Em meio à franca desaceleração econômica e do mercado de trabalho, o estoque total de crédito no Brasil teve variação positiva de apenas 0,1 por cento em abril sobre março, alcançando 3,061 trilhões de reais, o equivalente a 54,5 por cento do Produto Interno Bruto. Em março, o crédito representava 54,8 por cento do PIB.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, o crescimento dos financiamentos arrefeceu, já que no mesmo mês do ano passado o estoque havia tido alta de 0,7 por cento.
"Esse crescimento menor do crédito é comportamento consistente com o ciclo de política monetária, com a alta dos juros", afirmou ele, acrescentando que o resultado está em linha com pesquisa do BC que apontava um segundo trimestre mais restritivo para novas concessões de crédito tanto do lado da oferta quanto da demanda.
Maciel também chamou a atenção para a influência do câmbio no período: da mesma forma que em março a valorização do dólar inflou o estoque de financiamentos, em especial daqueles ligados às operações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em abril ocorreu o contrário, diante da queda da moeda norte-americana ante o real.
O chefe do Departamento Econômico do BC afirmou que, excluído o efeito da variação cambial, o crescimento no estoque total de crédito seria de 0,3 a 0,4 por cento em abril.
No acumulado do ano, esse saldo teve variação positiva de 1,4 por cento, sendo que o BC projeta uma expansão de 11 por cento para 2015, conforme estimativa de março que será atualizada novamente em junho.
NÃO PAGADORES
No mês, a inadimplência subiu a 4,6 por cento no segmento de recursos livres, que conta com taxas de juros livremente definidas pelas instituições financeiras, quebrando estabilidade da taxa em 4,4 por cento nos três meses anteriores.
Na visão de Maciel, ainda é cedo para avaliar se esse movimento tem consistência ou não. "É possível que haja sazonalidade nisso", disse.
A taxa de juros no mesmo segmento avançou a 41,8 por cento ao ano em abril, contra 40,9 por cento em março, em meio ao ciclo de aperto monetário conduzido pelo BC para combater a inflação. No acumulado de 12 meses encerrados em abril, o IPCA chegou a 8,17 por cento, bem acima da meta do governo de 4,5 por cento ao ano, com margem de dois pontos para mais ou para menos.
Dando sequência ao movimento de elevação nos juros iniciado em outubro, o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros Selic em 0,5 ponto percentual no fim de abril, a 13,25 por cento ao ano, com o mercado esperando outro aumento pela frente diante de sinalizações do BC de que os avanços no combate à alta de preços seguem insuficientes.
O segmento de recursos direcionados, no qual as operações contam com taxas ou recursos definidos por normas do governo, sentiu iguais reflexos: enquanto a inadimplência foi a 1,2 por cento em abril contra 1,1 por cento em março, a taxa de juros avançou a 8,7 por cento ao ano, contra 8,4 por cento no mês anterior.
O spread bancário aumentou em abril para 29,3 pontos percentuais no segmento livre, acima dos 28,2 pontos percentuais de março. No segmento direcionado, também houve crescimento, com o spread passando de 2,7 para 2,9 pontos percentuais.
(Edição de Cesar Bianconi)