SÃO PAULO (Reuters) - Os produtores de cimento do Brasil esperam queda de 10 a 12 por cento nas vendas do insumo em 2016, após queda estimada em 10 por cento para este ano, afirmou nesta quinta-feira o presidente da entidade que representa o setor.
"Vamos fechar 2015 muito certamente com algo em torno de 10 por cento de queda, porque a queda neste ano está acontecendo mês a mês e de forma progressiva", disse o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (Snic), José Otavio Carvalho, em entrevista à Reuters. De janeiro a novembro, as vendas caíram 9 por cento, para 59,74 milhões de toneladas.
Em novembro apenas, as vendas de cimento no Brasil despencaram 16 por cento sobre o mesmo período do ano passado, para 4,902 milhões de toneladas, recuando 12 por cento no comparativo com outubro.
Para Carvalho, o aumento da intensidade da retração das vendas deve-se à falta de reposição de obras novas, após a conclusão de projetos anteriores, em meio às incertezas causadas pela crise política e pela recessão.
"O setor vinha crescendo desde 2005, basicamente pelo segmento de edificação, que foi guiado por construtoras e incorporadoras capitalizadas, inflação e juros baixos, emprego e renda crescentes", disse o presidente do Snic.
"Hoje, todos os fatores que levaram à expansão da atividade imobiliária cessaram (...) Quando a crise atual veio, ainda havia um carregamento de consumo de obras em andamento, mas hoje estamos enfrentando uma situação de não termos reposição de obras de edificação e ausência de obras de infraestrutura", disse Carvalho. "Ainda não chegamos ao fundo do poço."
Na véspera, o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) previu que a construção civil no país deve ter 5 por cento de retração em 2016, após já uma expectativa de queda de 8 por cento em 2015.
Enquanto isso, a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) apontou que o volume de imóveis residenciais à espera de comprador no Brasil era de 96 mil até o final de setembro, mesmo nível de dezembro de 2014, apesar dos esforços do setor para reduzir esse inventário via corte de lançamentos e promoções ao longo deste ano.
Diante da perspectiva traçada pelos consumidores de cimento, Carvalho previu dificuldades para os produtores do insumo também para 2017.
"Para 2016 deve cair 10 a 12 por cento (as vendas de cimento), abaixo de 60 milhões de toneladas, e enxergamos 2017 em dificuldade também, porque mesmo que a economia se recupere, vai levar tempo para recompor o crédito, inflação, juros, renda e emprego", disse ele.
Segundo o presidente do Snic, o único fator que poderia ajudar o setor a enfrentar a retração atual e futura são obras de infraestrutura, atualmente responsáveis por 25 por cento do consumo nacional de cimento, ante os 75 por cento do setor imobiliário.
"O único instumento que poderia ajudar o setor a recuperar de forma mais ágil seria através de infraestrutura, mas isso depende também de haver mais estabilidade política", afirmou.
O Snic calcula a capacidade instalada de produção de cimento do país entre 80 milhões e 85 milhões de toneladas, número que pode subir para cerca de 100 milhões de toneladas nos próximos dois a três anos, diante de projetos de expansão iniciados antes do aprofundamento da crise. Com isso, a indústria pode pisar no freio e alongar novos projetos de expansão, disse Carvalho.
(Por Alberto Alerigi Jr.)