Por Howard Schneider e William Schomberg e Balazs Koranyi
WASHINGTON/LONDRES/FRANKFURT (Reuters) - Apesar das amplas advertências sobre os riscos econômicos apresentados pelo estresse recente no setor bancário, autoridades de política monetária globais mantêm o foco diretamente na inflação e na necessidade de continuar a elevar as taxas de juros para controlá-la.
O pedido de cautela veio de autoridades do Fundo Monetário Internacional (FMI) preocupadas com um colapso global, com os mercados de títulos dando sinais de recessão, e dos próprios formuladores de política monetária que dizem monitorar detalhes dos dados bancários e o humor de executivos do setor em busca de sinais de problemas.
Ainda assim, três dos quatro principais bancos centrais do mundo neste momento estão a caminho de aumentar as taxas de juros nas suas próximas reuniões, um passo que os mercados norte-americanos apostam que abrirá caminho para cortes nos custos de empréstimos logo após a chegada da recessão.
Em seu mais recente relatório Perspectiva Econômica Global, autoridades do FMI reduziram na terça-feira suas previsões para o crescimento mundial, mas disseram que há cenários "plausíveis", decorrentes das recentes falências do Silicon Valley Bank e do Signature Bank nos EUA e da fusão forçada do Credit Suisse (SIX:CSGN), que podem reduzir ainda mais o crescimento, enquanto problemas bancários mais sérios e crédito mais restrito podem paralisar a economia global.
Em contraste, os autoridades monetárias, mesmo após o recente estresse financeiro, parecem prontas para fazer mais para combater a inflação elevada, que ainda veem como o maior risco.
"O ônus permanece do lado de garantir um aperto monetário suficiente para 'finalizar o serviço' e levar a inflação de volta à meta", disse Huw Pill, economista-chefe do Banco da Inglaterra, alertando que os riscos de inflação "são significativamente de alta".
Embora a inflação no Reino Unido deva cair ante uma taxa de mais de 10%, a mais alta do mundo desenvolvido, Pill disse que a "potencial persistência da inflação gerada domesticamente" continua a ser uma barreira para atingir a meta de 2%.
Um dilema semelhante surge na Europa e nos EUA, partes do mundo que compartilham uma meta de inflação de 2% e uma sensação de que o ritmo subjacente de salto dos preços ficou travado em um nível muito mais alto do que isso.
O ponto fora da curva continua a ser o Japão, onde a inflação estagnada há muito tempo e o crescimento salarial apenas agora mostram sinais de mudança. O presidente do Banco do Japão, Kazuo Ueda, em sua coletiva de imprensa inaugural na segunda-feira, enfatizou a necessidade de manter uma política monetária ultraflexível para ajudar a atingir de forma sustentável a meta de inflação de 2%.
INFLAÇÃO "ENRAIZADA"
Na Europa, depois de evitar a recessão e enfrentar um inverno com preços de energia abaixo do esperado, apesar da guerra na Ucrânia, as preocupações com a inflação mudaram da taxa básica impulsionada pelo petróleo para uma série de preços que continuam a subir.
Salários, serviços e alimentos impulsionam o atual crescimento dos preços a tal ponto que a atenção do Banco Central Europeu (BCE) se voltou quase inteiramente para a inflação subjacente, com medo de que o rápido crescimento dos preços corra o risco de ficar travado acima da meta.
Philip Lane, economista-chefe do BCE que normalmente tem uma postura mais cautelosa, chegou a sinalizar a possibilidade de vários aumentos de juros, já que o núcleo da inflação subiu para um recorde de 5,7% no mês passado. A inflação geral está quase 4 pontos percentuais abaixo do pico de outubro.
Uma medida de inflação dos EUA citada por autoridades do Fed, que exclui bens com os movimentos maiores e menores de preços, mostrou pouca melhora, passando de 4,75% em agosto para 4,59% em fevereiro.
A expectativa é de que o banco central dos EUA suba sua taxa de juros de referência em mais 0,25 ponto percentual no próximo mês e sinalize se mais incrementos podem ser justificados. O mercado de trabalho dos EUA continua forte, com a inflação agora concentrada em setores que são os mais intensivos em mão de obra e, segundo algumas pesquisas, os menos sensíveis a juros mais altos --más notícias para o Fed e uma dinâmica que pode elevar os custos dos empréstimos.