Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - Com alívio nos custos da energia elétrica, a inflação oficial brasileira ficou pela primeira vez no ano abaixo de 1 por cento em abril na comparação mensal, mas ainda assim em 12 meses atingiu o nível mais alto em mais de 11 anos.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelerou a alta a 0,71 por cento em abril ante 1,32 por cento em março, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira.
Esta é a taxa mais baixa desde novembro, quando o índice avançou 0,51 por cento, só que o maior resultado para o mês desde 2011, quando chegou a 0,77 por cento. Além disso, no acumulado em 12 meses o IPCA chegou a 8,17 por cento, ante 8,13 por cento em março.
Trata-se da maior alta acumulada desde dezembro de 2003, quando o IPCA atingiu 9,30 por cento, permanecendo assim bem acima do teto da meta do governo, de 4,5 por cento, com margem de 2 pontos percentuais para mais ou menos.
"Mesmo saindo da casa de 1 por cento, a inflação ainda é forte em 12 meses. E não dá para dizer que uma taxa de 0,7 por cento é um nível de inflação baixo, de jeito nenhum", destacou a economista do IBGE Eulina Nunes dos Santos.
Os resultados ficaram abaixo das expectativas em pesquisa da Reuters, de alta de 0,76 por cento na base mensal e de 8,22 por cento em 12 meses.
Mas isso não representa nenhum alívio, segundo analistas, ainda que a expectativa seja de mais desaceleração nos próximos dois meses, chegando à casa de 0,30 por cento na base mensal em junho, segundo o economista sênior do Besi, Flávio Serrano.
"Boa parte será sazonal. Espera-se que a acomodação do mercado de trabalho produza desaceleração em serviços, mas ainda está ruim", disse ele, que projeta o IPCA a 8,10 por cento ao final do ano.
ENERGIA E REMÉDIOS
Segundo o IBGE, o principal responsável pelo resultado de abril do IPCA foi o custo da energia elétrica, que desacelerou a alta a 1,31 por cento ante 22,08 por cento no mês anterior, quando refletiu a revisão das tarifas em todas as regiões pesquisadas.
Os custos da energia vêm sendo o maior destaque no início do ano, em meio ao uso da bandeira tarifária, repassando ao consumidor os custos mais altos de geração devido à falta de chuvas, e à entrada em vigor de revisões tarifárias extraordinárias.
Apesar de o impacto ter sido menor em abril, o custo da energia residencial acumula neste ano alta de 38,12 por cento, e em 12 meses as contas estão 59,93 por cento mais caras, segundo os números do IBGE.
Ainda que os preços administrados tenham desacelerado a alta a 0,78 por cento em abril ante 3,37 por cento e março, eles continuam sendo os vilões da inflação este ano, acumulando avanço de 13,39 por cento em 12 meses.
Já o grupo com maior impacto no mês passado foi Alimentação e Bebidas, com 0,24 ponto percentual após alta de 0,97 por cento, mas o que registrou maior variação no mês foi Saúde e Cuidados Pessoais, com avanço de 1,32 por cento. Isso porque o item remédios registrou a maior contribuição individual, de 0,11 ponto percentual, após alta de 3,27 por cento dos preços.
De olho no nível elevado da inflação, na semana passada o Banco Central elevou a Selic a 13,25 por cento, e na ata dessa reunião sugeriu que o ciclo de aumento da Selic não terminou.
"Faz sentido que queiram fazer um ajuste mais forte e rápido em 2015 para concentrar tudo neste ano e descontaminar o cenário em 2016", destacou a economista da consultoaria Tendências Alessandra Ribeiro.
Com isso, a consultoria já começa a avaliar a possibilidade de alterar sua perspectiva para a Selic para uma alta de 0,50 ponto percentual na próxima reunião e outra de 0,25 ponto em seguida, ante só mais um aumento de 0,25 ponto atualmente.
Na pesquisa Focus do BC, a projeção de economistas para o IPCA ao final deste ano é de alta de 8,26 por cento, com os administrados avançando 13,05 por cento.
(Reportagem adicional de Pedro Fonseca)