SÃO PAULO (Reuters) - A prévia da inflação oficial brasileira desacelerou mais do que o esperado em março graças à queda nos preços de energia elétrica, indo abaixo de 10 por cento no acumulado em 12 meses pela primeira vez desde outubro, em meio ao cenáro de recessão econômica e forte turbulência política.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) subiu 0,43 por cento em março, após alta de 1,42 por cento no mês anterior, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira.
Com isso, o índice acumulado em 12 meses até março alcançou 9,95 por cento, ante 10,84 por cento até fevereiro.
O indicador havia ficado na casa de 9 por cento em 12 meses pela última vez em outubro (9,77 por cento), mas continua muito acima do teto da meta do governo, de 4,5 por cento pelo IPCA, com tolerância de 2 pontos percentuais para mais ou menos.
Ainda assim, o resultado reforça as expectativas de que a alta dos preços começaria a abrandar diante da forte recessão enfrentada pelo país, que em 2015 registrou o pior desempenho econômico em 25 anos ao encolher 3,8 por cento.
Pesquisa da Reuters junto a economistas apontava avanço de 0,55 por cento na comparação mensal e de 10,08 por cento na base anual, na mediana das projeções.
Segundo o IBGE, a principal influência para baixo no indicador do mês foi a energia elétrica, com queda de 2,87 por cento, representando -0,11 ponto percentual, devido à redução na cobrança extra da bandeira tarifária.
Isso ajudou o grupo Habitação a registrar queda nos preços de 0,52 por cento em março, após alta de 0,40 por cento no mês anterior.
Já os preços dos alimentos, que têm importante peso sobre a renda das famílias, apresentaram forte desaceleração da alta a 0,77 por cento em março, ante 1,92 por cento em fevereiro. Ainda assim, foram responsáveis por 46 por cento do IPCA-15, com impacto de 0,20 ponto percentual.
A inflação no Brasil, mesmo com a forte recessão, deve encerrar este ano bem acima do teto da meta pela segunda vez seguida. A pesquisa Focus do Banco Central junto a economistas mostra que a expectativa é que o IPCA feche o ano com alta de 7,43 por cento.
O próprio BC vê a inflação acima do centro da meta de 4,5 por cento em 2016 e também em 2017, e tem deixado claro que não vai reduzir a Selic --hoje a 14,25 por cento ao ano-- tão cedo.
Na véspera, o presidente do BC, Alexandre Tombini, afirmou que não trabalha com a hipótese de flexibilização da política monetária e que o quadro de inflação no país ainda é "desafiador".
(Por Camila Moreira)