Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - Os preços dos alimentos e dos combustíveis dispararam em junho mais do que o esperado como resultado da greve dos caminhonheiros e pressionaram com força a prévia da inflação oficial do Brasil, com a maior alta para o mês em 23 anos.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) acelerou a alta a 1,11 por cento em junho, sobre 0,14 por cento em maio, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira.
Foi o maior avanço para junho desde 1995 (+2,25 por cento) e ficou acima da expectativa em pesquisa da Reuters com especialistas de alta de 1 por cento.
Nos 12 meses até maio, o índice subiu 3,68 por cento em junho, contra 2,86 por cento no mês anterior e estimativa de 3,52 por cento. Essa é a primeira vez desde janeiro (3,02 por cento) que o IPCA-15 vai acima do piso da meta oficial de inflação, de 4,5 por cento pelo IPCA com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
A pressão sobre os preços veio como resultado da paralisação dos caminhoneiros no final de maio, que afetou o abastecimento em todo o país de alimentos, combustíveis e outros insumos.
Em junho, informou o IBGE, os grupos Alimentação e bebidas, Transportes e Habitação responderam a 91 por cento pela alta do índice.
Os preços de alimentos subiram 1,57 por cento após variação negativa de 0,05 por cento em maio. Os destaques ficaram para os preços de batata-inglesa (45,12 por cento), cebola (19,95 por cento), tomate (14,15 por cento), entre outros.
Já o preço da gasolina avançou 6,98 por cento em junho após alta de 0,81 por cento em maio, representando o maior impacto individual no índice e levando o grupo Transportes a subir 1,95 por cento no mês, sobre queda de 0,35 por cento no mês anterior.
No grupo Habitação, a alta foi de 1,74 por cento, sobre 0,45 por cento em maio, com destaque para o avanço de 5,44 por cento na energia elétrica diante da bandeira tarifária vermelha patamar 2.
Os efeitos da greve, entretanto, devem ficar concentrados em junho, com o aumento dos preços voltando a ser contidos pelo desemprego ainda elevado e capacidade ociosa alta, diante do quadro de atividade econômica mais fraca do que o esperado.
Na noite passada, o Banco Central decidiu manter a Selic em 6,50 por cento como esperado e pela segunda vez seguida, citando piora no mercado externo e, ao mesmo, recuperação "mais gradual" da economia brasileira neste ano após a greve dos caminhoneiros.
Com isso, segundo especialistas ouvidos pela Reuters, o BC indicou que não deve mexer tão cedo na Selic.