Nações Unidas, 7 jun (EFE).- A crise da dívida na zona do euro é "a mais grave ameaça para a economia mundial", reconheceu a ONU em um relatório semestral publicado nesta quinta-feira, pedindo a esses países uma "mudança política fundamental" para solucionar os problemas econômicos com base não apenas na austeridade, mas também na expansão.
O parecer das Nações Unidas está contido no relatório "Situação e Perspectivas da economia mundial em 2012", que revisa para baixo o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial para este ano, que já tinha sido considerado "anêmico" na última edição do texto.
Se na versão de seis meses atrás a previsão de crescimento global para este ano era de 2,6%, agora a estimativa é de 2,5% para 2012 e de 3,1% em 2013, com números regionais bastante desiguais - enquanto o conjunto dos países em desenvolvimento terá alta média de 5,3% em 2012, a América Latina e o Caribe registrará 3,7%.
A evolução da crise da dívida soberana europeia é a principal preocupação dos economistas da ONU, pois eles consideram que pode agravar uma situação que por si só já é inquietante.
Para a Europa Ocidental, a ONU indica que, após crescer 1,5% em 2011, o PIB da região sofrerá contração de 0,3% em 2012 e chegará a 0,9% em 2013, enquanto para os EUA prevê um aumento do 2,1 % em 2012 e o 2,3 % em 2013 e adverte a Washington que "ainda não está fora da zona de perigo".
"Uma escalada dessa crise (na zona do euro) poderia representar graves problemas para os mercados financeiros e um forte aumento da aversão ao risco, o que, por sua vez, levaria a um novo enfraquecimento do crescimento mundial", diz o documento.
Para enfrentar a situação, os analistas sugerem "uma mudança fundamental de política: é preciso se afastar da austeridade para resolver a crise do emprego e facilitar um crescimento respeitoso com o meio ambiente".
Os economistas da ONU assinalam no relatório que, nos países desenvolvidos, há quatro debilidades que dificultam uma recuperação econômica forte: em primeiro lugar, "o processo de redução de dívida iniciado por bancos, empresas e famílias enfraquece os fluxos de crédito, da mesma forma que o consumo e os investimentos".
A segunda fraqueza é o alto nível de desemprego, considerado causa e consequência da ausência de recuperação econômica.
Em terceiro lugar, "as medidas de austeridade orçamentária adotadas para tentar frear a alta da dívida pública, e que não só debilitam o crescimento econômico, mas também complicam os esforços para reduzir a dívida".
O quarto ponto baixo desses países é "a vulnerabilidade dos bancos às dívidas soberanas, que, combinada com a fraca economia mundial, perpetua a fragilidade do setor financeiro". Esta, por sua vez, reforça o andamento forçado rumo à redução da dívida.
Em meio às sombrias perspectivas, os economistas da ONU disseram que já "está claro que os esforços para restaurar a viabilidade da dívida mediante a austeridade orçamentária são contraproducentes".
Para romper esse círculo vicioso, eles recomendam esforços mais bem coordenados e mais coerentes em política econômica em nível nacional e internacional. Indicam ainda que as políticas fiscais, em particular as da Europa, "não seguem a boa direção". Em sua opinião, essas políticas agravam a crise e aumentam os riscos de uma nova recessão mundial.
O documento ressalta que os drásticos programas de austeridade orçamentária adotados por muitos países europeus e as políticas de ligeira contração de outros, como Alemanha e França, "reforçam o risco de criar uma espiral de recessão de enormes custos econômicos e sociais".
Uma das recomendações do texto é que os países abandonem a consolidação fiscal a curto prazo e apostem por um "crescimento forte baseado em medidas que garantam a viabilidade orçamentária a médio e longo prazo".
Os analistas também sugerem uma coordenação internacional da reorientação de políticas orçamentárias e medidas estruturais que estimulem a criação de emprego e um crescimento sustentável.
O texto também enfatiza a necessidade de se coordenar melhor as políticas monetárias em escala internacional e acelerar as reformas do setor financeiro para reduzir a volatilidade das taxas de câmbio e dos fluxos de capitais, que, na análise do documento, "representam uma ameaça" para as perspectivas das economias em desenvolvimento. EFE