Por Lisandra Paraguassu
SÃO PAULO (Reuters) - O ex-presidente e candidato ao Planalto Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu nesta segunda-feira que o remédio adotado pelo Banco Central de aumentar as taxas de juros é o errado para a inflação, e disse que o governo deveria ter atuado no controle dos preços administrados antes, e não apenas às vésperas da eleição.
"A decisão e a função que se dá ao Banco Central não pode ser apenas um instrumento de aumentar a taxa de juros para tentar conter a inflação. Ora, isso é muito bonito quando a gente tem inflação de demanda, mas quando você não tem inflação de demanda, você não precisa usar aumento de juro para reduzir a inflação", disse Lula em entrevista à imprensa estrangeira.
O ex-presidente, hoje em primeiro lugar em todas as pesquisas eleitorais, destacou que a maior parte da inflação no país até pouco tempo atrás era causada pelos preços administrados pelo governo, como energia e combustíveis, e que isso pode ser controlado.
"Vamos cuidar dos preços administrados e vamos cuidar de aumentar a capacidade produtiva de alimentos desse país para que a gente não tenha aumento de inflação por conta dos preços alimentícios", afirmou.
Lula voltou a defender que o Estado precisa ser o indutor de investimentos e prometeu que irá fazer um grande programa de retomada de obras públicas para ajudar a acelerar a economia.
"O Estado brasileiro vai ter que fazer um grande investimento em obras públicas, e o Estado precisa ser o indutor desse investimento para que ele motive a iniciativa privada a acreditar que o governo está falando sério", disse Lula, que defendeu a participação de Banco do Brasil (BVMF:BBAS3), Caixa Econômica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BODES) para fomentar o investimento.
"Primeiro, vamos ter que fazer um trabalho imenso e muito duro, de muita seriedade, para trazer a taxa de juros para um número considerado razoável pela sociedade brasileira. Segundo a gente vai trabalhar para trazer a inflação para um patamar que seja razoável... Terceiro, a gente vai gerar muito emprego", afirmou.
Lula voltou a defender a necessidade de aumento real do salário mínimo também como indutor do crescimento no país. Durante seus oito anos de governo, e também no governo da sucessora Dilma Rousseff (PT), uma das políticas do governo era de dar aumento real ao mínimo. Desde que assumiu o governo, alegando falta de recursos, o presidente Jair Bolsonaro tem mantido o reajuste apenas na variação da inflação.
Perguntado como faria para, por exemplo, manter o pagamento do Auxílio Brasil em 600 reais, Lula disse que seria necessário "criar dinheiro".
"Vamos ter que criar dinheiro, fazer esse país voltar a crescer. A melhor maneira de a gente ter Orçamento é fazer o país crescer. A melhor forma de diminuir a dívida em relação ao PIB é o país voltar a crescer", defendeu.
"O investidor estrangeiro não vem investir no país por causa dos olhos do presidente, ele vem investir no país quando a proposta de investimento oferece para eles possibilidade de ganho e, ao mesmo tempo, uma coisa que nós precisamos oferecer é mercado. Se não tiver mercado consumidor para o produto que vai ser fabricado, nenhum empresário quer fazer investimento", argumentou.
Questionado se teria uma medida pronta para revogar o teto de gastos já no início de um eventual governo, Lula voltou a dizer que sempre foi contra o teto e reafirmou que não é preciso um para manter a austeridade fiscal. Lula disse que o teto praticamente não existe mais, já que o atual governo o desrespeitou seguidamente, mas preferiu não dizer o que fará.
"Uns economistas antigos dizem que se você contar tudo que você vai fazer você não faz", disse. "Algumas coisas precisam ser feitas depois de ganhar eleição. Preciso ganhar para sentar com todo mundo e conversar. Vamos tentar construir uma sociedade de acordos."
(Reportagem adicional de Eduardo Simoes)
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