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Lula diz que discutiu divergências de acordo UE-Mercosul com Macron e pede negociação sem "arrogância"

Publicado 24.06.2023, 10:38
© Reuters. Presidente Luiz Inácio Lula Da Silva
23/06/2023
Lewis Joly/Pool via REUTERS

(Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste sábado que discutiu com o seu colega francês, Emmanuel Macron, as diferenças dos dois lados sobre o acordo União Europeia-Mercosul, e destacou que é preciso negociações sem arrogância tanto dos europeus como dos sul-americanos.

"Ele (Macron) nos disse que a gente pode discutir, que não tem tema proibido para discutir. Nós sabemos qual é o tema dele, ele sabe qual é o nosso tema", disse Lula em entrevista a jornalistas em Paris no encerramento de viagem a Itália e França. Na véspera, Lula teve um almoço de trabalho com Macron.

"Eu acho normal que a França tente defender a sua agricultura. Acho normal. Pode ser um ponto de mais dificuldade de inflexão, mas é normal que eles também compreendam que o Brasil não pode abrir mão das compras governamentais", acrescentou.

Sempre um ponto de contencioso nas negociações, que levam mais de 20 anos, as compras governamentais foram uma questão em que o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro havia cedido para tentar acelerar o fechamento do acordo. Lula, no entanto, tem mantido posição firme desde que tomou posse em janeiro.

"O fato de ter dois pontos que são dois pontos nervosos e dois pontos considerados essenciais para os dois lados, ora, a gente pode não fazer acordo com esses, mas vamos melhorar outras coisas", afirmou.

Apesar das dificuldades, o presidente procurou mostrar otimismo sobre um entendimento. "Como eu sou um ser humano que acredita muito na capacidade de negociação... por mais divergência que exista, é possível que a gente termine com um acordo".

Ele destacou, no entanto, que é preciso deixar de lado a arrogância, de ambos os lados.

"Então é importante lembrar que nós precisamos da União Europeia e a União Europeia precisa muito de nós. Portanto, é importante, sabe, que a gente coloque um pouco da arrogância de lado e a gente tente colocar o bom senso para a gente negociar. E isso vale para nós e vale para eles."

Lula reconheceu ainda as dificuldades que Macron tem no Congresso francês sobre o acordo e disse estar pronto para ajudar com os "amigos que a gente tiver aqui" para convencer que "o protecionismo não vai ajudar". Há dez dias, a Assembleia Nacional da França aprovou uma resolução (sem poder de lei) contra o acordo UE-Mercosul.

"Olha, o presidente Macron tem dificuldade no Congresso. Ele tem dificuldade no Congresso. E se a gente puder conversar com os nossos amigos mais à esquerda para poder ajudar a que seja aprovado o acordo do Mercosul, nós vamos fazer."

UCRÂNIA

Lula reconheceu também as diferenças com Macron sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia e disse ser natural que os pontos de vista sejam divergentes dada a localização geográfica dos dois, mas enfatizou que todos são a favor da paz. Para que isso seja possível, no entanto, disse que é preciso que ucranianos e russos a desejem.

"Há muito tempo eu sei o que o Macron pensa sobre a guerra da Ucrânia e há muito tempo o Macron sabe o que eu penso sobre a guerra da Ucrânia. Eu não levarei ele a pensar como eu... ele está próximo do campo de batalha e eu tenho o Oceano Atlântico, sabe, de diferença", disse Lula. "Mesmo aqueles que estão ajudando a Ucrânia, querem a paz."

© Reuters. Presidente Luiz Inácio Lula Da Silva
23/06/2023
Lewis Joly/Pool via REUTERS

"Tenho certeza de que todo mundo quer a paz. Acontece que a paz só vai acontecer quando os dois combatentes chegarem à conclusão de que é preciso ter paz. Então, eu vou esperar esse momento", acrescentou.

Em meio a algumas declarações polêmicas, posteriormente ajustadas, Lula tem procurado se colocar como um interlocutor capaz de participar de uma negociação de paz entre as duas partes em conflito na Europa.

 

(Por Alexandre Caverni, em São Paulo)

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