Por Fabricio de Castro e Lisandra Paraguassu
(Reuters) - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a conversa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no início da noite desta quarta-feira foi de “alto nível” e “transcorreu bem”, mas que não foram discutidos tópicos específicos, como o nível dos juros.
Em conversa com jornalistas em Brasília, Haddad, que também participou do encontro, evitou dar detalhes da conversa.
“Penso que foi um encontro institucional, de construção de relação, de pactuação em torno de conversas periódicas”, afirmou. “O presidente deixou claro o respeito que tem pela instituição. Foi uma conversa realmente muito... de alto nível”, desconversou, após ser questionado se os dois haviam discutido sobre a taxa básica Selic.
Segundo uma fonte palaciana afirmou à Reuters, a iniciativa do encontro -- o primeiro entre Campos Neto e Lula desde a posse presidencial -- partiu do presidente do BC, que encaminhou um pedido institucional à Presidência. Lula topou.
O encontro ocorreu após meses de críticas de Lula a Campos Neto e à política monetária do BC, vista pelo governo como rígida e um fator de inibição do crescimento.
A última vez em que Lula e Campos Neto -- nomeado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro -- estiveram reunidos foi em dezembro do ano passado, ainda durante a transição.
Desde então, a relação entre os dois se deteriorou, mas à distância. Lula passou a culpar Campos Neto pelas decisões do BC de manter os juros altos até junho, e foi seguido por boa parte do PT.
A pedido de Haddad, Lula por algum tempo deixou de citá-lo de forma específica, mas recentemente, mesmo depois da primeira decisão do BC de reduzir a taxa -- com voto de desempate de Campos Neto --, o petista voltou a criticá-lo e reclamar dos juros.
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a Selic pela segunda vez seguida, em 0,50 ponto percentual, para 12,75% ao ano.
Lula é o primeiro presidente a iniciar o governo com a vigência da autonomia do Banco Central, que foi sancionada pelo então presidente Jair Bolsonaro no início de 2021.
Com isso, o petista enfrenta a situação até então inédita de ter como presidente do BC nos primeiros anos de seu mandato um nome indicado pelo governo anterior.
(Por Fabrício de Castro, em São Paulo, e Lisandra Paraguassu, em Brasília)