O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, disse nesta 2ª feira (4.dez.2023) que a sua maior frustração à frente da autoridade monetária foi não ter feito melhorias para o quadro de funcionários públicos. Ele defendeu que “merecimento não falta” para os servidores que entregaram benefícios à sociedade, como o Pix
Ele participou de live “O BC na visão de Roberto Campos Neto”.
O diretor Mauricio Moura (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta) perguntou para Campos Neto qual seria sua maior frustração na autoridade monetária.
“Claramente a parte interna, de melhorar a situação do quadro dos funcionários. Ver maior capacidade de reconhecer tudo o que foi feito”, disse em referência à reestruturação de carreira dos servidores.
O BC tem autonomia operacional, mas não tem independência financeira do Poder Executivo. Reajustes e planos de reestruturação são definidos em Orçamento e discutidos com o governo. Na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), as tratativas são feitas com a ministra Esther Dweck (Gestão e Inovação em Serviços Públicos).
O Sinal (Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central) criticou a atuação da ministra. Campos Neto e diretores participaram de protesto em 1º de novembro, inclusive os diretores Gabriel Galípolo (Política Monetária) e Ailton Aquino (Fiscalização), que foram indicados por Lula.
Campos Neto disse, na live, que a autonomia financeira e administrativa é uma meta de médio prazo. “Coloca o Banco Central em outro patamar, inclusive em pé de igualdade com alguns outros Bancos Centrais que estão mais adiantados”, disse.
Ele afirmou que, ao fazer viagens internacionais, os países elogiam o trabalho do Banco Central brasileiro, mas, em compensação, os funcionários públicos estão desmotivados e insatisfeitos com a falta de valorização.
“[Faltou] Essa parte de remuneração, gratificação, reconhecimento interno. Eu gostaria de poder ter feito muito mais e ter contribuído mais […] Merecimento não falta, sobretudo pelo que foi feito”, disse.
Campos Neto disse que esperar ter tempo de entregar o Banco Central com mais avanços na tecnologia, com o Drex (o real digital) em funcionamento e o setor financeiro mais “tokenizado” e menos analógico.
Declarou que a autoridade monetária fez várias entregas no período que ficou no comando do BC. “Eu diria que foi muito bom esses 5 anos e fazer parte desse time vencedor”, disse.
AUTONOMIA
Campos Neto voltou a dizer que a aprovação da autonomia do BC foi um processo muito árduo, que exigiu convencimento do Executivo, Legislativo e, posteriormente, do Judiciário, depois que o tema foi judicializado.
Ele declarou que houve “muita peregrinação” no Congresso para explicar como funcionaria a independência operacional do BC. Campos Neto declarou que a lei permite separar o ciclo da política monetária do ciclo da política e que adota as melhores práticas no mundo.
Ele voltou a dizer que os juros nunca subiram tanto em período eleitoral, que o BC conseguiu manter um trabalho técnico e que a política monetária vai “muito além de um mandato de um governo”.
O presidente do BC disse que o 1º teste da autonomia do BC seria sentido com a mudança do governo. Segundo ele, o 1º desafio foi superado. “O Banco Central tem ganho uma grande visibilidade na sociedade, mostrando que capaz de fazer programas que melhoram a vida das pessoas, que tem uma forte preocupação com a inclusão e sustentabilidade”, disse.
Campos Neto avalia que o “ruído” do 1º teste é natural, mas que o saldo é “um grande aprendizado em termos de maturidade institucional”.
PIX E REAL DIGITAL
Campos Neto declarou que o Pix é uma revolução nos meios de pagamentos, mas que não esperava a adesão tão elevada. Ele citou a inovação como a principal entrega do BC à sociedade.
“A gente aproveita esse movimento de adesão que a sociedade abraçou o Pix para colocar mais funcionalidades. A gente quer cada vez mais usar o Pix como uma plataforma de programabilidade do dinheiro”, disse.
Outra inovação é o Drex –a moeda virtual do real. Campos Neto afirmou que a tecnologia é uma forma de mudar do mundo de contas para o mundo “tokenizado”. Disse que ainda não há nenhuma autoridade monetária que fez o que o BC pretende elaborar –uma plataforma DLT (Distributed Ledger Technology, em inglês) “totalmente integrada”.
Segundo ele, alguns sistemas no mundo são híbridos. “O sistema que a gente está buscando fazer é um sistema que ainda não existe. Tem alguns desafios de tecnologia que a gente está enfrentando, mas acho que a gente está muito na fronteira da evolução do que seria o sistema”, disse.
Campos Neto afirmou que o Drex tem função diferente do Pix. Segundo ele, o Pix tem capacidade de solucionar sozinho temas de pagamentos digitais e programabilidade. O real digital facilita o processo de transferência em contrato inteligente.
“O Drex vai retirar tudo do ruído do processo de compra e venda, principalmente ativos mais caros e ativos fixos […] Tem um contrato inteligente que vai estar esperando um pagamento com código em cripto que vai atender exatamente aquele requerimento. A hora que isso encaixa, isso gera um registro e um contrato digital”, afirmou Campos Neto.
O real digital também permitirá um nível de programabilidade superior a do Pix.
SETOR FINANCEIRO
Campos Neto disse que, em 5 anos, o sistema financeiro será mais segmentado. Avalia que o open finance –que permite o compartilhamento de dados do cliente bancário– potencializará a especialização das empresas em determinados mercados e serviços.
Avalia que as pessoas vão ter aplicativos com marketplaces com o maior número de produtos financeiros possíveis concentrados, onde será possível fazer operações em mais de um banco.
O presidente do BC declarou que o sistema financeiro global poderá estar integrado. Disse que hoje já tem tecnologia disponível para conectar as moedas.
“Se todas as moedas forem digitais ou processos digitais e forem conectadas em tempo real, a vantagem de se fazer comércio internacional e de ter uma moeda única [entre os países] em grande parte estarão sendo atendidas pelo sistema digital. A gente caminha para ter um ganho de eficiência do comércio internacional”, disse Campos Neto.