SÃO PAULO (Reuters) - As montadoras de veículos tiveram em maio o pior desempenho em cerca de uma década, levando à segunda redução das projeções para 2015 de um dos setores que acusa mais fortemente a retração da economia do país e que pode demitir mais nos próximos meses.
A produção brasileira de veículos no mês passado, incluindo automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, foi de 210,1 mil unidades, queda de 3,4 por cento sobre abril e de 25,3 por cento sobre um ano antes, disse nesta segunda-feira a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Foi o pior maio desde 2005.
Já os 212,7 mil licenciamentos de maio significaram um recuo sequencial de 3 por cento e de 27,5 por cento ante maio de 2014, voltando para os patamares de maio de 2007.
"O desempenho em maio foi muito pior do que as estimativas", disse a jornalistas o presidente da Anfavea, Luiz Moan.
Com a sequência de quedas, o acumulado dos primeiros cinco meses do ano apontou baixa de 19,1 por cento na produção e de 20,9 por cento, levando a entidade a rever novamente a projeção de 2015.
A estimativa de produção passou de declínio de 10 para 17,8 por cento, a 2,585 milhões de unidades, e de 20,6 por cento para vendas, ante projeção anterior de queda de 13,2 por cento.
Os números foram especialmente negativos para os veículos pesados, como caminhões, cujas vendas de maio voltaram aos níveis de 2003 e a produção, aos de 1999.
Um dos poucos números positivos foi o de exportações, que cresceram 41,7 por cento sobre abril e 16,5 por cento sobre maio do ano passado, a 40.762 unidades, num momento de fraqueza do real frente ao dólar.
Segundo Moan, além do quadro de fragilidade econômica do país, incluindo fatores como inflação alta e juros em elevação, o setor tem refletido maior seletividade dos bancos na concessão de financiamento para compra de veículos.
O setor teve nova contração no número empregados nas montadoras, desta vez de 1 por cento sobre abril e de 9,2 por cento ante maio de 2014, a 138,2 mil.
De acordo com Moan, as montadoras têm um excedente de cerca de 25 mil funcionários, número que inclui aqueles com contratos de trabalho temporariamente suspensos (layoff) e que estão em férias coletivas.
O setor, que teve forte crescimento nos primeiros anos da década, movimento apoiado em parte por medidas de estímulo ao consumo, incluindo redução de impostos, vem em retração desde 2013, quando teve sua primeira queda anual em uma década.
De 2004 a 2012, as vendas por ano no mercado doméstico subiram da faixa de 1,6 milhão para 3,8 milhões.
Se confirmada, a nova projeção da Anfavea, de 2,779 milhões de licenciamentos, fará de 2015 o ano mais fraco em vendas desde os 2,46 milhões de 2007.
"Mas esse é um quadro conjuntural, não muda os planos de investimentos das montadoras para o longo prazo", minimizou Moan, argumentando que a série de anúncios de aumento de capacidade de montadoras no país, assim como a chegada de novas marcas, têm como motivação expectativas para cerca de 20 anos.
(Por Aluisio Alves)