Por Rodrigo Viga Gaier e Flavia Bohone
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A economia brasileira encolheu 0,2 por cento de janeiro a março ante os últimos três meses do ano passado, com os investimentos caindo novamente e registrando a maior sequência negativa da série histórica.
A retração de 0,2 por cento do PIB no primeiro trimestre deste ano foi a primeira queda trimestral desde o segundo trimestre de 2014, quando a economia encolheu 1,4 por cento.
Apesar de ruim, o resultado divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira veio melhor do que a mediana das previsões de analistas, que esperavam retração de 0,5 por cento, segundo pesquisa Reuters.
Os números, no entanto, reforçaram as expectativas de uma queda mais pronunciada no segundo trimestre, o que colocaria o país em recessão técnica.
"Os dados do segundo trimestre muito provavelmente serão negativos, o que irá confirmar que o Brasil está em recessão de novo", disse o chefe de Pesquisa de Mercados Emergente da TD Securities, Cristian Maggio, em Londres.
Na análise dos setores da economia, o desempenho positivo da agropecuária evitou uma queda mais forte do Produto Interno Bruto (PIB) neste início de ano. O setor teve expansão de 4,7 por cento nos três meses até março sobre o trimestre imediatamente anterior, no período em que começou a ser colhida safra recorde de grãos no país.
"O quarto trimestre é de entressafra (nas principais culturas). Essa alta (do setor agropecuário) no primeiro trimestre é o efeito da colheita da safra de grãos que começa no fim de dezembro", disse o diretor da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica, Carlos Cogo.
O consumo das famílias caiu 1,5 por cento no primeiro trimestre em relação aos três últimos meses do ano passado, o maior recuo desde o último trimestre de 2008, período de crise global, quando a retração foi de 2,1 por cento.
"Essa queda do consumo das famílias é reflexo do aumento de juros, o crédito está mais caro. A inflação também afetou o consumo das famílias", disse a economista do IBGE Rebeca Palis.
Para o economista Daniel Weeks, da Garde Asset Management, a demanda doméstica continua bem fraca. Após os dados do primeiro trimestre, ele manteve a projeção de queda de 1,7 por cento do PIB brasileiro em 2015, com retração em torno de 1 por cento no segundo trimestre ante o primeiro.
A despesa do governo recuou 1,3 por cento no primeiro trimestre, segundo período seguido de queda e o maior recuo desde os três últimos meses de 2008.
O PIB da indústria, por sua vez, diminuiu 0,3 por cento nos três primeiros meses de 2015, com uma queda de 1,6 por cento na indústria de transformação e de 4,3 por cento em eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana. Por outro lado, a indústria extrativa mineral subiu 3,3 por cento e a construção civil também teve desempenho positivo, de 1,1 por cento.
O setor de serviços foi outro que teve retração no primeiro trimestre, de 0,7 por cento, primeiro resultado negativo desde o segundo trimestre do ano passado, quando a queda foi de 0,8 por cento.
A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) --medida de investimentos-- caiu 1,3 por cento, no pior resultado desde o segundo trimestre de 2014. Também foi a sétima baixa trimestral consecutiva do indicador, na maior sequência negativa desde a compilação do dado, que teve início em 1996.
COMPARAÇÃO ANUAL
Em relação aos três primeiros meses de 2014, a economia brasileira teve retração de 1,6 por cento no primeiro trimestre deste ano.
Nessa base de comparação, a FBCF caiu 7,8 por cento, o pior desempenho desde o segundo trimestre de 2014, quando a retração foi de 7,9 por cento.
"O que mais caiu foi produção interna e importação de bens de capital. Tem tudo a ver com câmbio, incertezas, crédito mais caro e restrito, juros mais elevados e nível de confiança", disse Rebeca, do IBGE.
Os gastos do governo caíram 1,5 por cento na comparação anual, o pior resultado desde o quarto trimestre de 2000.
"Isso tem tudo a ver com o ajuste fiscal adotado pelos governos federal, estaduais e municipais. O efeito do ajuste já é visto no governo como um todo", comentou a economista do IBGE.
O consumo das famílias caiu 0,9 por cento de janeiro a março ante igual etapa do ano passado, refletindo a desaceleração da massa salarial, crédito mais restrito, juros mais elevados e inflação, segundo o IBGE.
Também na comparação anual e por setores da economia, a agropecuária cresceu 4 por cento, enquanto a indústria teve retração de 3 por cento e o setor de serviços recuou 1,2 por cento.
No acumulado em quatro trimestres, a economia brasileira teve retração de 0,9 por cento, com queda de 2,5 por cento da indústria e de 0,2 por cento em serviços. Já a agropecuária teve alta de 0,6 por cento.
A FBCP caiu 6,9 por cento no acumulado dos últimos quatro trimestres, enquanto o consumo das famílias subiu 0,2 por cento e os gastos do governo tiveram alta de 0,4 por cento.
Veja mais detalhes do desempenho do PIB no primeiro trimestre de 2015: [nL1N0YK0M2]
(Reportagem adicional de Walter Brandimarte no Rio de Janeiro, Silvio Cacione em Brasília e Gustavo Bonato em São Paulo)