LISBOA (Reuters) - Os acionistas da Portugal Telecom SGPS decidiram nesta segunda-feira adiar para 22 de janeiro assembleia para analisar a venda dos ativos portugueses da operadora brasileira Oi para o grupo europeu Altice, levantando novas dúvidas sobre a operação de 7,4 bilhões de euros.
A Oi e outros acionistas da empresa, incluindo Novo Banco e o grupo de mídia Ongoing, propuseram a suspensão da assembleia, seguindo posição do regulador dos mercados portugueses e do presidente da mesa da assembleia, que querem que sejam dadas informações adicionais aos acionistas.
"A incerteza vai se manter, porque não há decisão, portanto, vai ser preciso esperar dez dias", disse Albino Oliveira, analista da Fincor.
A reunião tinha como único tema deliberar sobre a venda dos ativos portugueses da Oi à Altice. Analistas apontavam incertezas para a assembleia e antecipavam que poderia haver um impasse entre acionistas da Portugal Telecom SGPS e da Oi.
Após o anúncio do adiamento da assembleia, as ações da Oi aceleravam a queda para mais de 9 por cento, liderando as perdas do Ibovespa. A venda dos ativos portugueses é uma operação importante para a Oi, que está sob pressão para reduzir dívida elevada e ter recursos para seguir investindo em seus negócios no Brasil.
A assembleia contou com representação de 50 por cento do capital da empresa. A venda dos ativos portugueses precisa da aprovação de dois terços dos acionistas da Portugal Telecom SGPS para avançar.
A maior parte do capital da Portugal Telecom SGPS está disperso em investidores institucionais. A companhia tem como maior acionista o Novo Banco, com 12,6 por cento, mas pelos estatutos, a empresa tem uma barreira aos direitos de voto a um máximo de 10 por cento, que é a posição detida tanto por Oi como pela Ongoing.
Com a fusão entre Portugal Telecom e Oi em andamento, a operadora brasileira, já em posse dos ativos de telecomunicações da operadora portuguesa, fechou acordo para vender essas operações por 7,4 bilhões de euros à gigante francesa Altice.
Na sequência do receio de um adiamento da assembleia, as ações da Portugal Telecom SGPS caíram fortemente na semana passada, recuperando parcialmente as perdas antes de terem suas negociações suspensas pelo regulador de mercado português CMVM na sexta-feira, antes da abertura de bolsa.
"Agora a primeira questão é saber quando a CMVM levanta a suspensão da negociação das ações", disse Oliveira, lembrando que isso dependerá da prestação das informações adicionais requeridas.
A Portugal Telecom SGPS foi alvo de buscas policiais na semana passada. As investigações envolvem suspeitas de fraude qualificada e são focadas nas aplicações financeiras realizadas pela empresa.
A fusão entre Portugal Telecom e Oi, anunciada em 2013, visava criar uma operadora global, mas foi abalada pelo polêmico investimento da Portugal Telecom em dívida da Rioforte, holding do falido Grupo Espírito Santo.
A operadora portuguesa sofreu um "default" de 900 milhões de euros da Rioforte e, como resultado, o acordo de fusão foi revisto em prejuízo dos acionistas da Portugal Telecom SGPS, que viram sua posição na empresa combinada com a Oi, a Corpco, reduzida de 38 para 25,6 por cento.
(Por Daniel Alvarenga)