Por Ann Saphir e Lindsay Dunsmuir
(Reuters) - O chairman do Federal Reserve, Jerome Powell, reiterou nesta quarta-feira sua confiança nas perspectivas econômicas para os Estados Unidos, apesar de esperar alguma pressão negativa "em breve" da nova epidemia de coronavírus na China e destacar a ameaça vinda da desigualdade de renda e da expansão da dívida federal.
"Não há razão para a situação atual de baixo desemprego, aumento de salários, elevada criação de empregos... não possa continuar", disse Powell ao Comitê Bancário do Senado em seu segundo dia de depoimentos no Congresso.
A expansão econômica recorde dos EUA está agora em seu 11º ano. Os salários agora estão crescendo a um ritmo anual de cerca de 3%, a taxa de desemprego é de 3,6%, e o crescimento do emprego mais do que acompanhou o aumento da força de trabalho.
"Não há nada nessa economia que esteja em desarmonia ou em desequilíbrio", disse Powell.
Suas observações enfatizaram a visão do banco central de que o juro básico atual, entre 1,5% e 1,75%, é o cenário certo para manter a expansão nos trilhos.
Mas ele também disse que o Fed está acompanhando de perto a epidemia de doenças semelhantes à gripe que matou centenas e adoeceu dezenas de milhares de pessoas desde janeiro, quase todas na China.
"Realmente esperamos que haja alguns efeitos" na economia dos EUA, disse Powell, acrescentando que espera começar a ver esses dados refletidos nos dados econômicos "em breve".
A expectativa é que paralisações de fábricas e restrições de viagens destinadas a conter a disseminação do vírus na China e no resto do mundo afetem as cadeias de suprimentos.
As exportações dos EUA para a China também serão impactadas, disse ele, assim como o turismo chinês para os Estados Unidos. Os mercados financeiros oferecem outro caminho para o impacto no crescimento dos EUA, disse.
QUESTÕES DE PRAZO MAIS LONGO
Powell também observou várias áreas em que o desempenho da economia está aquém, incluindo desigualdade de riqueza e renda e participação da força de trabalho que, embora em alta, é menor do que em muitas outras economias avançadas. Questionado sobre o porquê, Powell atribuiu grande parte da culpa ao baixo nível educacional.
E o chairman do Fed falou pelo segundo dia sobre suas preocupações com o aumento da dívida dos EUA. "Eu diria, fique preocupado agora", disse.
O maior problema do orçamento federal, disse Powell, são os gastos com saúde, que representam cerca de 17% do PIB, mais do que o padrão de 11% nas mais avançadas economias. Isso ocorre a despeito de benefícios em si não serem mais generosos e os resultados de saúde estarem "perfeitamente na média", disse ele.
O déficit federal deste ano ficará em torno de 1 trilhão de dólares. Embora o recém-divulgado projeto de orçamento federal inclua uma redução nos próximos dez anos, pressupõe um crescimento econômico de 3% nos próximos anos, menos do que o ritmo de 2% estimado pelo Escritório de Orçamento do Congresso e pela maioria das autoridades do Fed.
Se a relação dívida/PIB continuar crescendo rapidamente, Powell disse: "O que isso significa é que daqui a 20 anos... nossos filhos gastarão esses dólares oriundos de impostos em serviço da dívida, em vez de nas coisas de que realmente precisam."