Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - Prejudicadas pela Copa do Mundo, as vendas no varejo do Brasil decepcionaram e recuaram 0,7 por cento em junho sobre maio, com fraqueza generalizada entre as atividades e reforçando as expectativas de recessão técnica no primeiro semestre.
A queda mensal verificada em junho foi a terceira no ano e a pior desde maio de 2012 (-0,8 por cento). Destacando ainda mais o cenário de fraqueza da atividade, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revisou para baixo nesta quinta-feira o resultado de maio, para alta de 0,3 por cento, contra 0,5 por cento divulgado anteriormente.
Na comparação com junho de 2013, as vendas varejistas subiram 0,8 por cento, forte desaceleração ante a alta de 4,7 por cento em maio na mesma base, também revisada de 4,8 por cento.
"Na Copa do Mundo tivemos menos dias úteis e isso impactou as vendas do comércio, principalmente móveis, combustíveis, livros e eletrodomésticos", explicou a gerente do IBGE, Juliana Paiva.
Os resultados ficaram abaixo das expectativas em pesquisa da Reuters, cujas medianas apontavam alta mensal de 0,40 por cento e de 3,50 por cento na base anual.
O resultado de junho foi amplificado pela Copa, reforçando a tendência de fraqueza no varejo vista neste ano, segundo analistas.
"O consumo inegavelmente perde força e, com o quadro de incertezas, o consumidor fica com o pé atrás. A tendência é de permanência desse quadro estrutural ruim no segundo semestre", afirmou o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, citando incertezas políticas e econômicas.
SUPERMERCADOS
De acordo com o IBGE, sete das oito atividades pesquisadas no varejo restrito tiveram queda na comparação mensal em volume de venda, com destaque para Livros, jornais, revistas e papelaria (-5,3 por cento) e Móveis e eletrodomésticos (-2 por cento).
A Copa apenas trouxe um pouco de alívio para a atividade de Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que registrou alta mensal de 0,6 por cento em junho.
Quando se olha para as vendas no varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, o cenário é ainda pior, com queda de 3,6 por cento na base mensal. O pior desempenho ficou para a atividade de Veículos, que encolheu 12,9 por cento no período.
O resultado do varejo agora é mais um sinal de perda de fôlego da economia brasileira. O setor fechou o segundo trimestre com queda de 0,6 por cento sobre o primeiro, somando-se à retração de 2 por cento da produção industrial no mesmo período.
RECESSÃO
O cenário geral do varejo alimenta a perspectiva de recessão técnica na primeira metade deste ano, em que a presidente Dilma Rousseff busca a reeleição, piorando as contas para 2014 como um ano.
"A recessão técnica não está descartada", disse o economista-chefe do ABC Brasil, Luis Otávio Leal, que revisou sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre para queda de 0,3 por cento sobre o primeiro, contra recuo de 0,2 por cento antes.
Os dados oficiais do IBGE são de que no primeiro trimestre de 2014 o PIB cresceu apenas 0,2 por cento na comparação com os últimos três meses do ano passado. Mas para Leal, esse número pode ser revisado para zero ou queda de 0,1 por cento.
Se ficar negativo, o país entraria em recessão técnica por dois trimestres seguidos de contração.
Economistas consultados na pesquisa Focus do Banco Central projetam expansão de 0,81 por cento do PIB neste ano, abaixo dos 2,5 por cento vistos em 2013.
(Reportagem adicional de Felipe Pontes, no Rio de Janeiro; e Luciana Otoni, em Brasília)