Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) -A indústria brasileira iniciou o segundo trimestre com ganhos em abril pelo terceiro mês seguido e em linha com o esperado, indicando alguma melhora, ainda que insuficiente para compensar as perdas recentes.
Em abril, a produção industrial aumentou 0,1% na comparação com o mês anterior, de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com a indústria ainda tentando engatar uma recuperação sustentada em meio à inflação elevada e problemas persistentes de oferta, a leitura ficou em linha com a expectativa em pesquisa da Reuters.
Nos três meses seguidos de ganhos até abril, a produção industrial acumulou ganho de 1,4%, o que ainda foi insuficiente para compensar a queda de 1,9% de janeiro, destacou o IBGE. O setor ainda está 1,5% abaixo do nível de fevereiro de 2020, pré-pandemia, e 18% aquém do ponto mais alto da série, de maio de 2011.
"As perdas do passado ainda estão longe de serem recuperadas apesar da modificação do ritmo de produção nos últimos meses", afirmou o gerente da pesquisa, André Macedo. "Apesar de ter mudado o ritmo e ter mais dados positivos, (a indústria) ainda esta muito aquém de recuperar o que perdeu com a pandemia."
Na comparação com o mesmo período do ano anterior, a produção industrial registrou queda de 0,5%, contra expectativa de taxa negativa de 0,8%.
Em um cenário de inflação e juros altos no país, o setor industrial ainda enfrenta demanda fraca já que os preços elevados corroem a renda, bem como problemas persistentes nas cadeias de oferta em meio à guerra na Ucrânia.
O ambiente ainda é de custos elevados por conta de energia, gastos logísticos e outros insumos, e esse cenário deve levar a um baixo dinamismo no setor ao longo do ano.
“Ainda há problemas de desabastecimento para bens, os custos seguem elevados, temos juros em elevação que encarecem o crédito, a inflação mais alta afeta a renda disponível bem como fatores ligados ao mercado de trabalho, com milhões de desempregados e renda comprometida", pontuou Macedo.
Em abril, 16 das 26 atividades pesquisadas apresentaram ganhos, e a maior influência positiva veio de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, com crescimento de 4,6%.
Já entre as que tiveram redução, os destaques ficaram para produtos alimentícios (-4,1%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-4,2%).
“Os produtos alimentícios registram o segundo mês seguido de queda, muito relacionada à produção de açúcar. Porém, antes dessas quedas, a atividade vinha de 4 meses de crescimento, mantendo ainda um saldo positivo nesses últimos seis meses”, disse Macedo.
Entre as categorias econômicas, a produção de bens de consumo semi e não duráveis cresceu 2,3% e a de bens intermediários aumentou 0,8%. Já os produtores de bens de capital registraram contração de 9,2% e os de bens de consumo duráveis viram recuo de 5,5% na fabricação.
(Edição de Luana Maria Benedito e Pedro Fonseca)