Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A fraqueza da produção industrial brasileira se intensificou no início do segundo trimestre com queda de 1,2 por cento em abril na comparação com o mês anterior, com destaque para a debilidade dos investimentos.
Esse é o terceiro resultado mensal negativo e o pior resultado para abril desde 2011 (-2,7 por cento), após recuos de 0,7 por cento em março e de 1,4 por cento em fevereiro, de acordo com dados revisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia a Estatística (IBGE) nesta terça-feira.
Na comparação com o mesmo mês de 2014, a produção caiu 7,6 por cento, 14ª taxa negativa nesse tipo de comparação e bem mais acentuada do que a registrada no mês anterior, quando houve queda de 3,4 por cento.
Com estes resultados, a produção da indústria está agora 12,3 por cento abaixo do nível recorde alcançado em junho de 2013, segundo o IBGE.
"Há um redução do patamar industrial a cada mês e a cada momento. Das últimas oito informações, seis tiveram queda e os dois meses de alta foram de taxas muito baixas. A redução de ritmo se intensificou nos últimos meses", destacou à Reuters o economista do IBGE André Macedo.
Ainda assim, os resultado foram um pouco melhores do que a expectativa em pesquisa da Reuters, de queda de 1,4 por cento na comparação mensal e de recuo de 7,9 por cento na base anual.
AUTOMÓVEIS
Entre as categorias de produção, todas apresentaram recuo tanto na comparação mensal quanto na anual, com destaque para Bens de Capital, uma medida de investimento, cuja produção recuou 5,1 por cento sobre março, terceiro mês seguido de queda, acumulando no período perdas de 12,7 por cento. Sobre abril de 2014, Bens de Capital registrou recuo de 24,0 por cento.
Dos 24 ramos pesquisados, 19 tiveram queda da produção em abril sobre o mês anterior, sendo as principais influências veículos automotores, reboques e carrocerias (-2,5 por cento) --que registra o sétimo mês seguido de perdas-- e perfumaria, sabões, detergentes e produtos de limpeza (-3,3 por cento).
"Para a indústria ter uma reversão daqui para a frente, tem que haver normalização de estoques que estão elevados, como no caso da automobilística, que é um setor importante e que explica bastante o desempenho ruim da indústria em 2015", completou Macedo.
O Produto Interno Bruto (PIB) da indústria teve queda de 0,3 por cento nos três primeiros meses de 2015, enquanto o PIB do Brasil encolheu 0,2 por cento no período ante os últimos três meses do ano passado.
E o cenário não aponta melhora em breve. O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) mostrou que a contração do setor se intensificou em maio, levando a cortes de empregos pela taxa mais rápida em quase seis anos.
"A dificuldade vivida pela indústria reflete a inflação pressionada, o aumento do endividamento das famílias, o aumento do custo do crédito e as dúvidas sobre a política econômica a partir de 2015", apontou em nota o economista-chefe da Concórdia Corretora de Valores, Flávio Combat.
"Esse conjunto de fatores pesam contra decisões de investimento e de consumo", completou, projetando contração de 4,0 por cento para a produção industrial em 2015.
Já a estimativa de economistas na pesquisa Focus do Banco Central é de contração da indústria de 2,8 por cento este ano, com o Produto Interno Bruto recuando 1,27 por cento.