Por Ann Saphir e Howard Schneider
WASHINGTON (Reuters) - Quanta fé as autoridades do Federal Reserve ainda têm nas perspectivas de um "aterrissagem suave" ao tomarem medidas agressivas para reprimir a inflação mais alta em 40 anos será revelada nesta quarta-feira, quando o banco central norte-americano divulgar novas previsões macroeconômicas.
As projeções dos 19 formuladores de política monetária --a serem publicadas em conjunto com o provável anúncio do terceiro aumento consecutivo dos juros de 75 pontos-base pelo Fed-- não devem convergir em torno de um salto maciço no desemprego ou uma contração da economia.
Esses foram os resultados da última vez que o Fed, sob a liderança de Paul Volcker, lutou contra a inflação superalta nos anos 1980.
Embora o novo resumo trimestral das estimativas dos formuladores de política monetária possa parecer descartar uma aterrissagem "dura" no estilo Volcker, é amplamente esperado que aponte desemprego notavelmente mais alto e um crescimento econômico mais lento no próximo ano. Isso, pelo menos com base numa famosa medida de referência, poderia sinalizar uma recessão de algum tipo.
Essa referência --conhecida como a Regra de Sahm, em homenagem à ex-funcionária do Fed Claudia Sahm, que a identificou e formalizou-- diz que a economia dos EUA normalmente está em recessão quando a média móvel de três meses da taxa de desemprego sobe 0,5 ponto percentual acima da menor taxa de três meses ao longo dos 12 meses anteriores. Essa mínima atualmente é de cerca de 3,56%.
Economistas consultados pela Reuters esperam que a taxa de desocupação suba para 4,1% no segundo trimestre de 2023 e para 4,3% no quarto trimestre --muito abaixo dos 14,7% alcançados na crise da pandemia ou do pico de 10,8% durante a recessão de Volcker, mas alta o suficiente para cumprir o teste da Regra de Sahm.
Historicamente, uma vez que a taxa de desemprego aumenta 0,5 ponto percentual, ela continua a subir mais 1 ou 2 pontos, se não mais.
As projeções dos formuladores de política monetária para a economia dependem de seus pontos de vista sobre a configuração apropriada da política monetária, que também terá seus prognósticos publicados nesta quarta-feira como parte do resumo trimestral de projeções econômicas do Fed, ou SEPs.
RECESSÃO À FRENTE?
As projeções de quarta-feira também darão uma leitura sobre a rapidez com que as autoridades do Fed esperam que suas ações diminuam a inflação e quanto a economia deve desacelerar.
Nas estimativas informadas em junho, a inflação permanecia acima da meta de 2% do Fed até 2024, enquanto nem mesmo o mais pessimista integrante do Fomc esperava que a economia retraísse nos próximos trimestres. A maioria apostava no crescimento do PIB entre 1,3% e 2% para cada um dos próximos três anos.
"As novas projeções econômicas destacarão a tolerância do Fed à dor, com o crescimento real do PIB provavelmente revisado significativamente para baixo", escreveu o economista-chefe do EY Parthenon, Gregory Daco, acrescentando que a previsão para a taxa de desemprego no próximo ano seria muito superior a 4,5%.
Os prognósticos de inflação, no entanto, podem ficar próximos aos estabelecidos em junho, disse ele, em meio a "duelo de forças da persistência da inflação e uma postura mais agressiva do Fed e provável recessão".