SÃO PAULO (Reuters) - O setor de serviços da economia brasileira não tem mais espaço para recuperar perdas da pandemia e a partir de agora será preciso crescimento real para que a atividade siga em rota ascendente, num momento em que as projeções para o PIB de 2022 parecem já ter batido seu teto e a queda do investimento preocupa, disse Juliana Trece, pesquisadora e economista da FGV Ibre.
O IBGE divulgou nesta quinta-feira dados mostrando que os serviços puxaram a alta de 1% do PIB entre janeiro e março sobre o último trimestre do ano passado, com o segmento impulsionado pela reabertura dos negócios num contexto de pandemia mais controlada. Mas o número geral do PIB ficou abaixo do esperado.
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"A gente não tem mais esse espaço para simplesmente recuperar perdas. Daqui para a frente o crescimento vai ter de ser real, e isso preocupa", disse Trece. "A gente está num ano eleitoral, que é um ano que já tem muitas incertezas, tem muita polarização, e a gente vê a Formação Bruta de Capital Fixo em queda", afirmou.
A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), uma medida de investimento, encolheu 3,5% nos primeiros três meses do ano, com redução na produção e na importação de bens de capital, segundo o IBGE.
"A gente não consegue ver no longo prazo um crescimento robusto com uma taxa de investimento que está perdendo força, e isso compromete a geração de empregos."
A economista explicou que parte da queda da FBCF deriva da base de comparação elevada, influenciada por operações envolvendo importações fictas (operação em que não há entrada de mercadorias no país) de plataformas de petróleo associadas ao Repetro, regime aduaneiro especial.
"Mas mesmo assim a gente tem lá (na abertura da FBCF) redução de produção, uma redução principalmente do componente de máquinas e equipamentos, que é o que vinha segurando a taxa de investimento", disse.
Para Trece, é difícil pensar em novas revisões para cima nas estimativas para o PIB de 2022. "Não acredito que vá revisar muito mais", afirmou. A FGV Ibre ainda não atualizou seu cenário para a atividade após a divulgação dos dados do PIB nesta manhã. A estimativa mais recente apontava para um crescimento de 0,7% no ano.
(Por José de Castro)