Por Tommy Wilkes
LONDRES (Reuters) - Recentes turbilhões nos mercados financeiros globais são provavelmente os primeiros de muitos, conforme investidores se ajustam a um mundo de condições monetárias mais apertadas e com a ameaça de uma desaceleração econômica, disse o Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) neste domingo.
Este ano tem sido duro, com grandes quedas nas ações europeias e asiáticas e mesmo ações nos EUA escorregando recentemente para o vermelho em 2018 após uma década de corrida altista.
O último trimestre viu temores crescentes em relação ao mundo e ao crescimento econômico dos EUA, conforme uma estrondosa guerra comercial cresce e bancos centrais apertam suas políticas monetárias ou se preparam para retirar estímulos extraordinários concedidos após a era de crise.
As "tensões do mercado que vimos durante este trimestre não foram um evento isolado", disse o chefe do departamento econômico e monetário do BIS, Claudio Borio.
A "normalização da política (monetária) está fadada a ser um desafio, especialmente à luz das tensões comerciais e da incerteza política", acrescentou Borio em um relatório trimestral do BIS.
Entre os desafios a serem enfrentados pela economia global, Borio apontou a possibilidade de alta na inflação, uma "nuvem negra" de dívidas corporativas dos EUA com ratings mais baixos em um mercado sobrecarregado e a fraqueza no setor bancário europeu.
O BIS é um grupo que reúne bancos centrais do mundo e seus relatórios são vistos como um indicador das ideias discutidas sob portas fechadas em seus encontros trimestrais.
As últimas semanas também viram os rendimentos de títulos de curto prazo do governo norte-americano ficarem brevemente acima das taxas de médio prazo, um fenômeno conhecido como "inversão das curvas de juros". A inversão, geralmente um confiável indicador prévio de recessões, assustou ainda mais investidores.
O BIS disse, no entanto, que estudos sobre o estado do ciclo financeiro são melhores para sinalizar riscos de recessão do que a curva de juros.
Borio, Mathias Drehmann e Dora Xia disseram que seu estudo apontou que desde o início dos anos 1980 as desacelerações geralmente aconteceram após um 'boom' financeiro, mais do que após significativos apertos monetários.
Mas eles não aplicaram suas descobertas às condições atuais para avaliar o risco de uma recessão nos próximos anos.
APERTO NO FINANCIAMENTO EM DÓLAR
Constantemente crescentes nos EUA, as taxas de juros também podem pressionar a disponibilidade de dólares - a moeda global de financiamento escolhida. Mas o BIS disse que a capacidade do setor financeiro de aumentar o financiamento em dólar fora dos Estados Unidos poderia mitigar esse risco.
Um estudo do BIS, divulgado como parte do relatório trimestral, descobriu que os bancos não norte-americanos estão cada vez mais levantando dólares em seus países, e não nos Estados Unidos - mais de 50 por cento de suas dívidas em dólar são agora registradas em seus países de origem, bem acima dos níveis anteriores à crise financeira de 2008-2009.
Como resultado dessa mudança, os passivos em dólar nos balanços dos bancos de fora dos EUA situaram-se em 12,8 trilhões de dólares até o final de junho de 2018, um aumento de 20 por cento desde o final de 2009.
O crescimento dos bancos não norte-americanos no financiamento internacional em dólar - com os bancos tomando empréstimos de investidores em diferentes países - ressalta que bancos centrais em todo o mundo podem fornecer liquidez em dólar em uma crise, segundo o estudo de Iñaki Aldasoro e Torsten Ehlers.
O BIS também disse que os bancos dos países em desenvolvimento respondem agora por mais de 12 por cento dos empréstimos internacionais, em comparação com 3 por cento em meados de 2008, à medida que aumentaram empréstimos a empresas de mercados emergentes.
Em muitos países, mais da metade dos empréstimos transfronteiriços para empresas e instituições financeiras, exceto bancos, é financiada por credores com sede em outros mercados emergentes, acrescentou o BIS.