SÃO PAULO (Reuters) - A economia brasileira permaneceu em território positivo no terceiro trimestre e contrariou expectativas de retração, mas ainda assim marcou o resultado mais fraco desde o final de 2022, em meio a condições financeiras restritivas e pressionada pelo setor agrícola e pela queda dos investimentos, após mostrar forte resiliência na primeira metade do ano.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou expansão de 0,1% no terceiro trimestre na comparação com os três meses anteriores, marcando o terceiro trimestre seguido de expansão. A taxa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira contrariou a expectativa em pesquisa de Reuters de uma queda de 0,2%.
Veja a reação de participantes do mercado financeiro ao resultado do PIB:
WILLIAM JACKSON, ECONOMISTA-CHEFE PARA MERCADOS EMERGENTES DA CAPITAL ECONOMICS
"A economia do Brasil teve um desempenho melhor do que o esperado no terceiro trimestre, mas o panorama geral é de que o forte crescimento observado no primeiro semestre do ano chegou ao fim. Do lado da produção, a agricultura foi um obstáculo ao crescimento no terceiro trimestre, uma vez que a colheita abundante do início do ano foi parcialmente revertida. É difícil prever o que acontecerá no quarto trimestre, dada a volatilidade da produção no sector agrícola. Mas... pensamos que a economia está entrando numa fase de crescimento mais fraco –mais semelhante às taxas de crescimento registradas nos anos anteriores à pandemia, de 1,0-1,5%."
GABRIEL COUTO, ECONOMISTA DO SANTANDER
"A nossa previsão de crescimento de 2,5% para 2023 está atualmente sob revisão, com riscos inclinados para cima. As condições financeiras continuam em níveis criticamente restritivos, o que se reflete no contínuo enfraquecimento dos investimentos fixos. Contudo, o consumo das famílias continuou a demonstrar uma elevada resiliência, em meio a um mercado de trabalho ainda apertado. Do lado da oferta, apesar da confirmação de uma desaceleração ampla, todos os setores superaram as nossas expectativas, indicando resiliência generalizada da economia brasileira."
IGOR CADILHAC, ECONOMISTA DO PICPAY
"Boa parte da surpresa positiva veio dos serviços melhores... por outro lado, seguimos percebendo alguns contrapontos: a queda dos investimentos nos sinaliza um tipo de abertura que não se espera de uma economia forte. Olhando para frente, os números mais fortes não alteram o cenário de desaceleração da atividade econômica. De um lado temos os efeitos defasados da política monetária, a dissipação do impulso no período pós-pandemia e um arrefecimento da demanda externa; por outro, ainda temos observado um mercado de trabalho aquecido e a permanência de alguns estímulos governamentais."
ALBERTO RAMOS, DIRETOR DE PESQUISA MACROECONÔMICA DO GOLDMAN SACHS PARA A AMÉRICA LATINA
"A atividade real durante o terceiro trimestre foi apoiada pelos setores industrial e de serviços e arrastada pelo declínio considerável, mas menor do que o esperado, na atividade agropecuária. À frente, esperamos que a atividade continue a se beneficiar de estímulos fiscais significativos e de perspectivas positivas para a produção de petróleo e gás, mas seja pressionada por condições monetárias e financeiras internas restritivas, níveis ainda elevados de endividamento das famílias, baixos níveis de margem disponível na economia, indicadores de confiança fracos e a inversão do ciclo de crédito."
NICOLAS BORSOI, ECONOMISTA-CHEFE DA CORRETORA NOVA FUTURA
"PIB melhor que o esperado pelo consenso (-0,3%) e por nós (-0,2%). Apesar da surpresa, não estou convencido que os números alteram o cenário de atividade fraca. Acho que o consumo, de fato, surpreendeu positivamente. Mas olhando os dados de oferta de forma desagregada, o recuo dos investimentos e das importações, pela ótica da demanda, me fazem crer que os dados são mais condizentes com um cenário de PIB fraco."
GUSTAVO CRUZ, ESTRATEGISTA-CHEFE DA RB INVESTIMENTOS
"O PIB, com essa surpresa positiva, vai com certeza trazer uma onda de revisões novamente... mostra ainda uma resiliência do setor de serviços. O desempenho negativo do agronegócio é totalmente compreensível, a gente sabe que grande parte da safra está no primeiro semestre e acho que estava na conta de todo mundo. Olhando um pouco mais de contexto a médio e longo prazo, sempre a pedra no sapato do Brasil é a questão de investimento muito baixo."
(Por Luana Maria Benedito)