Jesús Lozano.
Madri, 15 fev (EFE).- O presidente do Governo da Espanha, o socialista Pedro Sánchez, convocou nesta sexta-feira eleições gerais antecipadas para o dia 28 de abril próximo, ao admitir que não pode governar sem orçamento próprio, em um cenário político muito polarizado por causa do independentismo catalão.
Nestas circunstâncias, entre "não fazer nada" ou dar a palavra, o direito de falar aos espanhóis nas urnas, Sánchez escolheu o segundo, segundo explicou o governante em pronunciamento à imprensa após um Conselho de Ministros extraordinário.
O Congresso rejeitou, na quarta-feira passada, o projeto de orçamento do Estado para 2019, o que precipitou a decisão de Sánchez, ao evidenciar a fraqueza parlamentar do Governo.
Sánchez governa em minoria desde o dia 1 de junho de 2018 quando ganhou uma moção de censura contra o conservador Mariano Rajoy (Partido Popular, PP) com o apoio de socialistas, Unidos Podemos (esquerda), nacionalistas bascos e independentistas catalães.
O presidente argumentou hoje que um governo tem a obrigação de cumprir com sua tarefa, que é aprovar leis e "avançar", e quando isto não é possível por causa do bloqueio parlamentar e a rejeição do orçamento é preciso "tomar decisões", neste caso antecipar o pleito para antes do final do mandato, em junho de 2020.
Sánchez justificou a moção de censura que o levou ao poder através de uma sentença judicial que condenou o PP em um caso de corrupção, para normalizar a vida política espanhola e convocar eleições "o mais rápido possível", mas sem dizer quando.
Desde então passaram oito meses e meio, nos quais governou contra a oposição implacável do PP e do Ciudadanos (liberais), que o acusam de "ceder e se render" ao independentismo, pedindo a ele uma antecipação eleitoral.
E também contra a pressão dos soberanistas catalães, que não renunciam ao direito "de autodeterminação". Sánchez lhes tinha oferecido diálogo para resolver as tensões independentistas, mas sempre dentro dos limites da Constituição, que impede a secessão de qualquer parte do território espanhol.
Os socialistas sozinhos têm 84 dos 350 deputados do Congresso, portanto Sánchez teve que buscar constantemente acordos com outras forças políticas, às vezes a duras penas.
E justamente PP, Ciudadanos e os partidos independentistas catalães ERC e PDeCAT, representados no Parlamento espanhol, votaram na quarta-feira contra o projeto orçamentário socialista. Enquanto isso, continua prorrogado o de 2018, elaborado pelo Governo anterior do PP.
Apesar de tudo, Sánchez considerou nesta sexta-feira que há "derrotas parlamentares" como a do orçamento que são "vitórias sociais", porque os cidadãos já conhecem as propostas e projetos socialistas e se demonstra assim que não há "pactos ocultos" com os independentistas.
Sobre a Catalunha, Sánchez enfatizou que nunca renunciará ao diálogo para encontrar uma solução para a crise territorial, mas insistiu: "Fora da Constituição, nada". E também criticou a oposição conservadora que não tenha sido leal ao Estado nesta questão.
Na terça-feira passada começou no Tribunal Supremo espanhol o julgamento de 12 líderes soberanistas catalães por causa do processo independentista inconstitucional de 2017.
Sánchez quis desvincular esse julgamento da próxima campanha eleitoral, pois "a Justiça vai para um lado, faz seu trabalho, e a política faz o seu".
Hoje e diante das próximas eleições, o presidente do PP (134 deputados atualmente), Pablo Casado, apresentou seu partido como "única alternativa ao desafio independentista" dos governantes regionais da Catalunha, embora tenha reconhecido que pode chegar a acordos com outros partidos para alcançar este objetivo.
"A oposição firme, responsável e eficaz do PP no Parlamento e a mobilização cidadã nas ruas conseguiram que o Governo desistisse de continuar negociando com os independentistas, mas pode voltar a fazê-lo", advertiu Casado.
O líder do Ciudadanos (32 deputados), Albert Rivera, pediu para se votar para não repetir um governo liderado por Sánchez, e não excluiu acordos com o PP, como ocorreu recentemente na região da Andaluzia (sul), onde a legenda se aliou para formar governo com o apoio do ultradireitista Vox.
"Caso contrário, haveria um Executivo com os separatistas e os populistas do Unidos Podemos", alertou Rivera.
A porta-voz parlamentar do Podemos (67 deputados), Irene Montero, ressaltou que seu partido representa o voto "mais útil" para conter a direita, melhorar a vida de milhões de espanhóis e garantir que o diálogo sobre a Catalunha seja uma realidade.
Neste ambiente, o resultado eleitoral parece bastante incerto, embora as pesquisas apontem um Parlamento fragmentado, onde qualquer partido vai precisar de outros para poder governar e o Vox, que conseguiria representação pela primeira vez, poderia ser a chave de um novo Governo.