Investing.com – Com as incertezas que rondam a próxima gestão do Banco Central, após semanas de atrito entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, a percepção é de que, mesmo que uma eventual nova gestão seja mais heterodoxa, não haveria espaço para “invenção e aventuras”. Essa é a opinião de Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, que conversou com o Investing.com Brasil.
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“Se o Banco Central tentasse fazer cair a taxa de juros na marra, forçar uma queda da Selic, a resposta ia ser uma alta significativa das expectativas da inflação, das taxas longas, o que na verdade ia prejudicar o próprio crescimento do país lá na frente em 2026, em ano eleitoral”, detalha o economista.
No entanto, uma eventual nova gestão com indicados pelo governo e alinhados com o pensamento de Lula poderia demonstrar mais conforto em perseguir não o centro da meta, atualmente em 3%, mas o teto dela, que possui o limite de 1,5 ponto percentual. “Não vão falar isso, mas eu acho que tem caminho de ser um BC que olhe neste patamar e esteja relativamente confortável”, alerta.
O cenário fiscal segue incerto e no radar, mas os últimos indicativos, com moderação de tom, são favoráveis. “Temos visto os dois lados nesse momento colocando lenha na fogueira, e isso não tem ajudado muito”, avalia, em referência às críticas de Lula aos juros e à Campos Neto e falas do presidente do BC a respeito do cenário fiscal.
Na opinião do economista, os cortes para o próximo ano, anunciados pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, são insuficientes, e não há grandes chances de que seja feito um ajuste mais robusto e completo, o que deve ficar somente para o próximo governo, em seu entendimento. Assim, a expectativa é de que a taxa de juros ronde o patamar atual de 10,5% não somente neste, mas no próximo ano, com pouso espaço para ajustes mais acentuados – um distanciamento da perspectiva de início do ano que indicava uma flexibilização monetária mais evidente.
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Confira a entrevista:
Investing.com – No seu comentário macroeconômico, você mencionou que riscos externos de uma queda atrasada da taxa de juros americana não se comparam com as questões domésticas, que seriam mais complexas, mencionando a situação fiscal. Quais medidas deveriam ser direcionadas pelo governo, na sua opinião?
Sérgio Vale – Eu acho que a gente chegou num ponto em relação à questão fiscal no Brasil, que as reformas e os ajustes, são cada vez mais difíceis. O governo conseguiu fazer um ajuste fiscal parcial no ano passado, fazendo aumento de arrecadação, mas o governo deixou de atuar no que era mais difícil politicamente, pelo próprio pensamento do governo, que era o que fazer com a estrutura de gastos.
Passado um ano e meio de governo, isso fica mais claro ainda, que era preciso de fato ter atuado no primeiro ano de governo, quando o mandato está fresco, o governo tem mais força política. Quando tenta mexer nisso no segundo ano, fica mais difícil. Depois de tantas décadas, o ajuste fiscal que se fala hoje é mais politicamente difícil de acontecer, a gente fica com mais dúvidas ainda se ele será viável.
Ele passa, em um primeiro momento, em fazer desvinculação do salário-mínimo da previdência, ter um aumento do pagamento da previdência balizado pela inflação e não com aumentos reais, como são os aumentos no salário mínimo. E por outro lado, fazer a desvinculação da saúde e da educação em relação à receita líquida, ter uma variação que caiba dentro da regra fiscal que temos hoje, de crescimento até 2,5% em termos reais.
Se o governo sinalizasse algo do tipo, a gente teria uma mudança significativa de uma maior parte do mercado e teria uma sinalização mais efetiva de ajuste de gastos importante para os próximos anos. E são medidas que têm custo político para o governo muito grande, especialmente em ano eleitoral. E fazer isso no ano que vem e no terceiro ano do mandato fica ainda mais difícil porque vai ser véspera de eleição presidencial.
Então eu acho que essa questão mais dura, mais complexa, a gente vai ter que esperar para o próximo mandato. E o que vai dar pra fazer agora é o que o governo tem feito, algum ajuste ainda residual possível de arrecadação, cada vez mais difícil de acontecer, e esse pente fino que o governo anunciou que é bastante insuficiente mas, de certa forma, é o que o presidente sancionou e é o que dá pra fazer.
Inv.com – A política monetária pode ser avaliada como fator de risco? Quais suas perspectivas, acredita em uma retomada de aumentos nos juros?
Vale – A política monetária e o Banco Central se tornaram risco por conta dessa percepção de ter uma diretoria que está sendo trocada. Além disso, há uma certa dúvida em relação à diretoria que está lá, sobre qual será o comportamento quando houver maioria, a partir do final do ano, pois mais três trocas serão feitas. Há essa suspeita de que talvez o Banco Central fique heterodoxo mais à frente.
Há dúvidas em relação à própria presidência do Banco Central, as falas do presidente nesse sentido não ajudaram em nada nas últimas semanas. Então, o Banco Central que costumava sempre ser elemento de contenção de risco, entrou nesse momento infelizmente como elemento que adiciona risco, por conta dessas incertezas que o presidente comunicou. De certa forma, o Banco Central também tem se colocado em uma posição de discutir a questão fiscal, especialmente pelo Roberto Campos Neto, que talvez fica um pouco a dúvida se seria o caso da gente avançar dessa forma. Temos visto os dois lados nesse momento colocando lenha na fogueira, e isso não tem ajudado muito.
A taxa Selic está nesse patamar que a gente está vendo agora de 10,5% e não deve haver mais quedas, como era se esperado no começo do ano, por conta justamente da política fiscal inadequada que o país tem seguido. Então, o Banco Central, apesar de todos os problemas que estão aparecendo, ele está tentando minimamente conter o risco e manter a expectativa de inflação sob controle. Eu acho que, no final, por tudo isso que está mudando, em relação aos diretores do banco, o que vem relação ao novo presidente, o BC vai trabalhar com uma inflação que não vai conseguir sair muito do teto, vai ficar entre 4% e 4,5%, e a Selic também no final não vai conseguir sair muito do patamar de 10%, um pouco mais, um pouco menos. Mas eu acho que essa é taxa com que a gente vai conviver pelo menos até 2026.
Inv.com – Acha que pode haver altas neste ano ou ela deve ser mantida?
Vale – Nesse ano, pelo menos por hora, a probabilidade maior é de ficar em 10,5%. Tem riscos no segundo semestre que vão prevalecer. O risco fiscal ainda é risco muito presente, ao longo do segundo semestre a gente vai ter divulgação no relatório trimestral, que a gente vai ter pouco de contingenciamento, você vai ter discussão da LDO de 2025, tendo mais ideia do que que são esses cortes que o governo está sinalizado. Com tudo que foi indicado até agora, nada disso é suficiente para você fazer ajuste fiscal mais significativo. Nossa percepção de risco ainda vai permanecer.
No final do ano, apesar de queda de juros nos Estados Unidos ser bastante provável de acontecer, a gente tem uma eleição nos Estados Unidos bastante conturbada, uma com possível vitória do ex-presidente Donald Trump. O Trump não tem sinalizado que vai fazer ajuste fiscal necessário, num país que está com déficit público nesse momento caminhando para 7% por cento do Produto Interno Bruto (PIB), que precisa fazer ajuste fiscal, isso também pressiona as taxas longas nos Estados Unidos. Consequentemente, também é elemento que impede uma queda mais significativa da nossa própria taxa. E tem, no final do ano, ainda o risco em relação ao próprio BC, quem vai ser o presidente, quem vão ser os novos diretores. Então é muito risco no segundo semestre ainda, e a chance de ficar em 10,5%, nesse patamar, durante bastante tempo, é muito alta. Eu diria que talvez a gente fique com essa taxa esse ano inteiro, e talvez ainda em 2025.
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Inv.com – O que pode demonstrar esse período de férias de Campos Neto e Galípolo à frente da instituição?
Vale – Existe uma discussão agora de antecipar a troca do presidente do Banco Central também. Avalio que não faz muito sentido, temos uma lei de independência extremamente nova, recente. Quebrar a lei de independência, nesse momento, quebra a lei daqui para frente. A credibilidade dela vai de fato ser muito afetada se isso acontecer.
Então, o melhor que poderia acontecer é deixar o RCN até o final, ter o mandato completo, e com eventual troca para o Galípolo, a gente vai precisar acompanhar como vai ser o comportamento dele e dos novos diretores, com maioria com uma visão eventualmente mais heterodoxa, que não vai significar nenhuma situação de crise, não vai ter queda de juros artificial, não tem espaço para isso.
Se o Banco Central tentasse fazer cair a taxa de juros na marra, forçar uma queda da Selic, a resposta ia ser uma alta significativa das expectativas da inflação, das taxas longas, que na verdade ia prejudicar o próprio crescimento do país lá na frente em 2026, em ano eleitoral. Acho que o BC novo que vem pela frente não tem muito espaço para invenção e pra aventuras.
Mas é um BC que talvez vá estar confortável ali com 4%, 4,5%, com inflação próxima do teto da meta. Não vão falar isso, mas eu acho que tem caminho de ser um BC que olhe neste patamar e esteja relativamente confortável. Nunca obviamente isso vai ser afirmado, mas sempre que o Banco Central iria corretamente perseguir a meta.
Mas, dado os riscos envolvidos em relação à questão fiscal e em relação à própria condução do BC, a própria presença de diretores potencialmente mais heterodoxos, vai pouco essa dúvida, a expectativa de inflação acaba sentindo esse impacto, e a gente pode ter de fato essa inflação ficando mais próxima do teto.
Apesar de ser de ficar no teto, ainda é um teto relativamente baixo. Apesar de não se conseguir levar a inflação para 3%, ficar entre 4% e 4,5% nos próximos dois anos meio está bastante sob controle, não tem nenhum sinal de crise profunda, não há nada disso nesse momento na economia brasileira. São ajustes importantes que precisam ser feitos, especialmente na política fiscal, para que o Brasil encaminhe melhor a economia. Acho que talvez a gente não consiga fazer isso nos próximos dois anos e meio, mas a gente vai ter tempo de esperar para acontecer no próximo governo.
Inv.com – Qual sua perspectiva para o dólar ao fim do ano? O que precisaria ocorrer para acalmar mais o câmbio, na direção dos R$5?
Vale – Parte, parte dessa solução, de certa forma, está sendo dada agora com esse discurso amenizado do presidente em relação à questão fiscal, especialmente, de aceitar que o arcabouço fiscal precisa ser mantido, isso por si só já ajuda nessa contenção do câmbio que chegou quase R$5,70 e agora está caminhando para ficar em R$5,40, R$5,50.
Para que ocorra um ajuste muito mais significativo nessa taxa de câmbio, seria necessário anúncio de medidas de fato mais concretas do ponto de vista fiscal. Isso está faltando. Tenho a impressão de que, pelo menos nos próximos meses, vai ser difícil o câmbio voltar àquele patamar de R$5 que a gente tinha antes, porque entraram esses elementos de risco adicionais, que não foram resolvidos da melhor forma possível, especialmente em relação à questão fiscal.
Então o câmbio está buscando um novo equilíbrio e esse equilíbrio, provavelmente, é um patamar mais elevado, talvez R$5,30, R$5,40 que é para onde a gente está caminhando. E vai ser aqueles R$5,30, R$5,40 que vão funcionar como estava antes dessa crise toda, quando o câmbio estava a R$5: com melhores momentos ele cai pouco, piora um pouco em outro momento. Mas eu acho que o patamar será um pouco maior do que estávamos vivenciando anteriormente por conta desse risco fiscal agravado que apareceu no meio do caminho. Então o câmbio de R$5,30/R$5,40 parece ser bem possível de se observar, mas com a ressalva de que a taxa de câmbio é sempre bastante difícil de ser projetada.
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