Por Timothy Heritage e Alexei Anishchuk
MOSCOU (Reuters) - O presidente russo, Vladimir Putin, acusou nesta quinta-feira os inimigos de seu país de tentarem desmembrar a Rússia e destruir sua economia como forma de punição por seu fortalecimento, em um discurso anual do estado da União que pareceu superar as demonstrações recentes de nacionalismo mais exacerbado.
O líder do Kremlin se vangloriou da anexação da península ucraniana da Crimeia, louvou o povo russo por sua força, acusou o Ocidente de "puro cinismo" na Ucrânia e disse que as sanções econômicas devem levar os russos a desenvolver sua própria economia.
O rublo caiu durante a fala de Putin, na qual não deu sinais de que irá voltar atrás nas políticas que desencadearam um clima de confronto com o Ocidente inédito desde a Guerra Fria.
Os "inimigos de ontem" da Rússia desejam a ela o mesmo destino da Iugoslávia nos anos 1990, afirmou ele no discurso, que durou mais de uma hora e foi interrompido várias vezes por aplausos.
"Não há dúvida de que eles teriam adorado ver a situação de colapso e desmembramento da Iugoslávia para nós – com todas as conseqüências trágicas que teria para os povos da Rússia. Isto não aconteceu. Não permitimos", afirmou.
O Ocidente está tão determinado a destruir a Rússia, disse, que as sanções teriam sido impostas mesmo sem a crise na Ucrânia.
"Tenho certeza que se nada disso acontecesse... eles teriam arranjado outra razão para conter as habilidades crescentes da Rússia", disse. "Quando alguém acredita que a Rússia se tornou forte, recorre a este instrumento".
Mesmo ao se comprometer a manter sua nação aberta ao mundo, Putin adotou uma postura agressiva: "Jamais tomaremos o rumo do auto-isolamento, da xenofobia, da suspeita e da busca por inimigos. Tudo isso é uma manifestação de fraqueza, e nós somos fortes e confiantes em nós mesmos".
O líder russo está sendo pressionado a mostrar que tem uma resposta para a economia em declínio da Rússia. As sanções e a redução do preço das exportações do setor energético colocaram o rublo em trajetória de queda, culminando nesta semana com a admissão do governo de que o país ruma para a recessão.
Putin prometeu uma anistia aos capitais repatriados, dizendo que os russos que decidirem levar seu dinheiro de volta para o país não terão que explicar como o obtiveram. Receitas de um fundo nacional de riqueza seriam usadas para apoiar os bancos locais.
A popularidade de Putin ainda está nas alturas e ele não enfrentou grandes manifestações por conta da decadência econômica, mas há quem se pergunte se ele tem um plano para tirar a economia da crise.
O rublo perdeu um terço do valor este ano, a queda no preço do petróleo fez um rombo nas finanças estatais e as empresas e bancos do país penam para encontrar dólares para pagar dívidas estrangeiras.
A fuga de capitais deve ultrapassar e muito os 100 bilhões de dólares em 2014, e alguns analistas preveem controles sobre o capital, embora o governo negue.