Por Caio Saad e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A taxa de desemprego no Brasil subiu a 6,7 por cento em maio e atingiu o nível mais alto em quase cinco anos com o maior aumento anual no número de pessoas desocupadas na série histórica, em mais um sinal dos efeitos da fragilidade econômica e da inflação alta.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a leitura da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) divulgada nesta quinta-feira é a mais alta desde agosto de 2010, quando também atingiu 6,7 por cento, mostrando deterioração do mercado de trabalho pelo quinto mês seguido, além de queda na renda.
Também é o maior resultado para um mês de maio desde 2010, quando a taxa chegou a 7,5 por cento. Em maio de 2014 a leitura foi de 4,9 por cento.
O resultado ficou ligeiramente acima da expectativa em pesquisa da Reuters, cuja mediana apontava taxa de 6,6 por cento após 6,4 por cento em abril.<BRUNR=ECI>
"Houve dispensa de pessoas que antes estavam ocupadas (em relação ao ano passado), e há mais gente procurando trabalho", resumiu a coordenadora da pesquisa no IBGE, Adriana Berenguy.
De acordo com os números da PME, em maio a população desocupada, que inclui pessoas sem trabalhar mas à procura de uma oportunidade, subiu 4,8 por cento sobre o mês anterior, para 1,633 milhão de pessoas.
Na comparação com maio de 2014, o aumento foi de 38,5 por cento, o que representa 454 mil pessoas a mais procurando emprego do que no mesmo período do ano passado e, segundo o IBGE, é o maior crescimento na série histórica da pesquisa.
O mercado de trabalho brasileiro vem desde o início do ano mostrando deterioração de forma concomitante com a economia, marcado pelo aumento da procura por vagas e fechamento de postos de trabalho enquanto o país enfrenta ajuste fiscal, aperto monetário e inflação alta.
A população ocupada, por sua vez, avançou 0,1 por cento sobre abril, atingindo 22,788 milhões de pessoas, mas recuou 0,7 por cento ante o mesmo período do ano anterior, o que representa um saldo de 155 mil dispensas.
"A geração de ocupação não está suficientemente grande para absorver a população ativa", acrescentou Adriana, do IBGE.
A renda média real em maio caiu 1,9 por cento sobre abril e 5,0 por cento na comparação com um ano antes, a 2.117,10 reais.
"Embora a alta na inflação possa estar por trás disso, os dados mostram que os salários nominais também estão desacelerando, aumentando 3,5 por cento na comparação anual em maio ante 9,0 por cento em média no ano passado", escreveu em nota o estrategista para América Latina do Barclays (LONDON:BARC), Bruno Rovai.
No setor privado, o emprego com carteira assinada registrou ganhos de 0,2 por cento na comparação com o mês anterior, ou 28 mil vagas a mais. Porém em relação a maio de 2014 houve queda de 1,8 por cento, ou 213 mil postos de trabalho a menos.
De acordo com dados do Ministério do Trabalho, o Brasil fechou 115.599 vagas formais de trabalho em maio, no pior resultado para o mês na série histórica iniciada em 1992.
No trimestre encerrado em abril, a taxa de desemprego chegou a 8,0 por cento, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE.
O mercado de trabalho tem sido um reflexo da situação econômica brasileira, cuja expectativa é de que registre este ano contração da atividade e inflação em torno de 9 por cento. O Banco Central projetou na quarta-feira o IPCA este ano exatamente em 9,0 por cento e contração econômica de 1,1 por cento.