Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A concentração de renda no Brasil aumentou ligeiramente no ano passado pela primeira vez desde 2004, enquanto a taxa de desemprego voltou a subir devido à pequena abertura de vagas, mostrou a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (Pnad), divulgada nesta quinta-feira pelo IBGE.
O rendimento médio do trabalhador brasileiro ocupado, segundo o estudo, subiu 5,7 por cento em 2013, para 1.681 reais, ante 1.590 reais em 2012, mas o avanço foi desigual. A renda dos mais ricos avançou em um ritmo mais forte que o rendimento dos mais pobres, causando aumento da disparidade de renda.
O movimento foi verificado em todos os recortes feitos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), seja pela renda do trabalho, pela renda domiciliar ou pela renda de todas as fontes, que inclui programas de transferência de renda, pensão, aposentadoria e aluguel.
O índice de Gini, que mede a concentração de renda, avançou para 0,500 em 2013, ante 0,499 no ano anterior. Pelos critérios do indicador, quanto mais perto de zero menor é a desigualdade de um país. Em 2011, o Gini calculado com base no rendimento domiciliar mensal foi de 0,501.
"Os três recortes mostram uma estabilidade do Gini desde 2011. Para o índice melhorar, as pessoas das camadas mais pobres precisariam ter aumentos superiores dos demais. Não vimos isso e, por isso, não vemos movimentação (na concentração)", avaliou a economista do IBGE Maria Lúcia Vieira.
A renda média dos 10 por cento mais pobres subiu 2,17 por cento para 470 reais. Por outro lado, a renda média dos 10 por cento mais ricos avançou 4,4 por cento, a 11.758 reais.
"Teve um aumento maior nas extremidades da distribuição, no meio ou não teve nada ou até queda. Para se ter uma distribuição melhor tem que dar mais para quem tem menos. Isso não aconteceu no ano passado e a desigualdade aumentou", avaliou a economista do IBGE.
Segundo ela, o que mais chama a atenção é que o Gini "está praticamente parado" há três anos no país (2011, 2012 e 2013).
"Antes, o que se via eram quedas importantes a cada ano no Gini e não se vê mais isso. Não dá para dizer que houve melhora ou piora, mas estamos numa mesma condição desde 2011", acrescentou.
DESEMPREGO SOBE
A taxa de desemprego no Brasil voltou a subir em 2013, de acordo com a Pnad, interrompendo trajetória descendente verificada desde de 2009, quando alcançou 8,3 por cento. Pela pesquisa, que usa como referência para mercado de trabalho a última semana de setembro de cada ano, a taxa de desemprego no ano passado subiu a 6,5 por cento ante 6,1 por cento em 2012.
"O número de vagas não atendeu à demanda por emprego no ano passado e foi a primeira vez que cresceu a taxa de desocupação desde a crise mundial", afirmou o coordenador da pesquisa, Cimar Azeredo.
Em 2013, a população ocupada avançou 0,6 por cento, para 95,9 milhões de pessoas, enquanto o número de desocupados subiu 7,2 por cento, para 6,7 milhões de pessoas.
Do total de ocupados, 54,9 milhões eram homens e 41 milhões mulheres, sendo que apenas a ocupação entre as mulheres cresceu significativamente em 2013: 1,3 por cento.
Segundo a Pnad, 56,9 por cento dos desocupados no ano passado eram mulheres; 31,3 por cento nunca tinham trabalhado; 32,6 por cento eram jovens de 18 a 24 anos; 60,6 por cento eram negros ou pardos e 50,8 por cento não tinham ensino médio.
A indústria e a agropecuária perderam postos e participação no mercado de trabalho em 2013 em relação ao ano anterior. No segmento industrial, foram fechados 470 mil postos no ano passado e no setor agrícola foram menos 728 mil vagas.
"Isso tem a ver com as dificuldades enfrentadas pelo segmento industrial e com a maior mecanização no campo", disse a economista do IBGE.