Por Caio Saad e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - As vendas no varejo brasileiro caíram 0,9 por cento em maio, pior desempenho em 14 anos para esse mês e muito pior do que o esperado, aprofundando a fraqueza enfrentada pelo setor diante do cenário de inflação alta e economia fragilizada no país.
Em relação a maio do ano passado, as vendas recuaram 4,5 por cento, num mês marcado pelo Dia das Mães, segundo dados divulgados nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia a Estatística (IBGE).
Os resultados vieram muito abaixo do que as expectativas em pesquisa da Reuters, de queda de 0,30 por cento na base mensal e de 3,65 por cento na comparação anual.
"Maio conseguiu ser pior que abril. O Dia das Mães não teve o efeito positivo que teve nos outros anos. A gente está com oferta de credito menor", destacou a coordenadora da pesquisa no IBGE, Juliana Vasconcellos.
Em abril, as vendas varejistas recuaram 0,5 por cento sobre o mês anterior, dado revisado pelo IBGE de queda de 0,4 por cento divulgada anteriormente.
QUEDAS DISSEMINADAS
O IBGE informou que cinco das oito atividades pesquisadas no varejo restrito registraram queda mensal no volume de vendas em maio, com destaque para a queda de 2,1 por cento tanto em Livros, jornais, revistas e papelaria quanto em Móveis e eletrodomésticos.
Já as vendas de supermercados, importante reflexo da economia, voltaram a cair em maio, 1,1 por cento, após ter mostrado alta no mês anterior.
A receita nominal do varejo restrito ficou estável sobre abril, mas teve alta de 1,9 por cento ante maio de 2014.
Já no varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, o volume de vendas recuou 1,8 por cento em maio na comparação com abril, com destaque para a queda mensal de 4,6 por cento em Veículos e motos, partes e peças.
"(A disseminação das perdas) reforça a conjuntura econômica desfavorável", completou Juliana.
O setor de varejo no Brasil vem sofrendo com a perda de força da economia, com aumento do desemprego e corrosão da confiança no país, bem como as sucessivas altas na taxa básica de juros --agora em 13,75 por cento-- que encarecem o crédito.
Também sob o peso da indústria, que não tem perspectiva de melhora no curto prazo, economistas projetam na pesquisa Focus do Banco Central contração da economia neste ano de 1,50 por cento.
Devido ao resultado bem pior que o esperado e com sinalizações de fraqueza de indicadores antecedentes como emprego, confiança e salários, o diretor de pesquisa econômica do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos, revisou para queda de 1,50 por cento a expectativa para o Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre sobre o período anterior, ante recuo de 1,25 por cento.
"O cenário para o consumo privado e as vendas no varejo no curto prazo continua fraco devido à desaceleração do fluxo de crédito..., altos níveis de endividamento das famílias, desaceleração da criação de emprego e do aumento do salário real, alta da taxa de juros", resumiu ele.
As taxas dos contratos de juros futuros recuavam nesta sessão, influenciadas também pelo resultado fraco das vendas do varejo, que, na avaliação de operadores, pode contribuir para gerar alívio na inflação elevada.
Os investidores mantinham as apostas em alta de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros ao todo, que passaria dos atuais 13,75 por cento a 14,25 por cento ai fim deste ciclo de aperto monetário, iniciado em outubro passado.