Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - As vendas varejistas surpreenderam e seguiram em alta no Brasil em fevereiro, atingindo o maior patamar da série histórica diante de um cenário mais favorável para o consumo.
Em fevereiro as vendas apresentaram crescimento de 1,0% sobre o mês anterior, contrariando a expectativa em pesquisa da Reuters de uma queda de 1,0%.
Os dados divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que as vendas perderam força em relação ao avanço de 2,8% em janeiro, mas ainda assim atingiram o maior patamar da série histórica iniciada em janeiro de 2000.
“A expansão do crédito, emprego e renda, não especialmente em fevereiro, mas desde o ano passado, justifica a alta", disse o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, destacando que as vendas acumularam no primeiro bimestre deste ano alta de 2,5% em relação aos dois últimos meses de 2023.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, houve alta de 8,2%, contra projeção de ganho de 3,3%..
O varejo tende a se beneficiar neste ano de um mercado de trabalho aquecido, inflação sob controle e o ciclo de cortes da taxa básica de juros Selic, atualmente em 10,75%, ainda que ela permaneça em um nível elevado. A expectativa é de que atividades mais ligadas ao crédito tenham bom desempenho.
"Em 2024, o consumo tem se voltado para outros tipos de produtos, proporcionados pelo aumento da renda das famílias, a melhora no crédito e a queda na inadimplência. O segmento de varejo continuará sendo impulsionado pelo cenário doméstico mais favorável para o consumo, tendo em vista o mercado de trabalho aquecido e o ciclo de cortes da Selic", destacou Rafael Perez, economista da Suno Research.
Entre as oito atividades pesquisadas, seis mostraram ganhos nas vendas em fevereiro. Os destaques foram os setores de Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (9,9%) e de Outros artigos de uso pessoal e doméstico (4,8%).
“A trajetória de queda dos juros que começou no ano passado começa a aparecer com mais força nas vendas, isso se vê em bens de maior valor agregado", disse Santos.
Por outro lado, apresentaram taxas negativas Combustíveis e lubrificantes (-2,7%) e Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,2%).
“A queda (de supermercados) tem a ver com a inflação ainda alta para alimentos. E é importante lembrar também que há uma mudança no perfil de consumo para bens de maior valor agregado", completou Santos.
O comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e material de construção e depende mais de crédito, teve aumento de 1,2% nas vendas em fevereiro sobre o mês anterior.
Houve alta de 3,9% entre veículos e peças no mês, contra queda de 0,2% no material de construção.
"A tendência aponta para um retorno ao equilíbrio neste ano, o que consequentemente resultará em um varejo um pouco mais forte e serviços um pouco mais fracos do que no ano passado", disse Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, lembrando que na reabertura da pandemia o consumo se voltou mais para serviços, causando dificuldades para o varejo.