ARQUIPÉLAGO DE LOS ROQUES, Venezuela (Reuters) - Na tentativa de atrair turistas para ajudar sua enfraquecida economia, a Venezuela está construindo infraestrutura, incluindo estradas e hotéis, e causando danos ambientais em ecossistemas delicados, especialmente em recifes de coral no Caribe, que já estão ameaçados pelas mudanças climáticas, disseram ambientalistas, cientistas, fontes do governo e moradores.
O governo do presidente Nicolás Maduro, que culpa as sanções dos Estados Unidos pela crise econômica do país, disse que o turismo é a “arma secreta” da economia do país.
Fontes dizem que, até agora, a aposta não conseguiu atrair investidores estrangeiros, apesar de uma reunião que ocorreu entre o Ministério do Turismo e empresários franceses, além de ofertas feitas por Maduro para executivos neste mês.
A tentativa de melhorar a infraestrutura turística está, contudo, atraindo críticas de biólogos, ativistas e moradores locais. Um grupo ambiental chegou a afirmar que um grande projeto é totalmente ilegal.
A pista do aeroporto do Parque Nacional de Los Roques — um arquipélago de 45 ilhas, ilhotas e águas cristalinas que ocupa uma área de 550 mil acres no Caribe — foi estendida para 1.300 metros neste ano, ante um comprimento anterior de 880 metros. Assim, grandes aviões podem pousar ali.
A extensão destruiu corais, mangues e uma praia usada para a desova da tartaruga Eretmochelys imbricata. A área foi coberta com rochas e asfalto, “entre outras mudanças que afetam os recursos naturais do parque”, afirmou a Sociedade Ecológica da Venezuela em um estudo.
Maduro, que também busca investidores internacionais para um projeto de construção de dez hotéis na ilha La Tortuga — que hoje é praticamente virgem — afirma que o projeto respeita o meio ambiente.
“Importantes investidores de todos os lugares estão vindo, alguns do mundo árabe, alguns da Turquia, alguns do Irã, da China, da Índia, do Brasil para investir no turismo”, afirmou o presidente na televisão estatal, em novembro, elogiando “o crescimento de hotéis, pousadas e serviços de turismo em todo o país”.
Sem dar mais detalhes, a ministra do Turismo, Leticia Gómez, disse no mesmo pronunciamento que o governo firmou acordos turísticos com Nicarágua, Cuba e Síria. Ela também saudou um aumento de 69% no turismo até novembro, na comparação com o mesmo período do ano anterior, dizendo que 1,8 milhão de pessoas visitaram o país, incluindo cidadãos russos, poloneses, iranianos, cubanos e até da vizinha Colômbia.
Como base de comparação, mais de 3,1 milhões de turistas visitaram a Colômbia no primeiro semestre de 2024.
As licenças ambientais não são públicas, e os ministérios do Meio Ambiente e do Turismo não responderam aos pedidos para que comentassem sobre o tema. Duas fontes do governo afirmaram que estudos de impacto não foram conduzidos para a extensão da pista em Los Roques. Um grupo de defesa da conservação ambiental alega que a obra viola uma lei de 2004.
“O parque nacional se tornou um desastre”, afirmou o ex-guarda local e ambientalista Toribio Mata, que ainda vive lá. Ele diz que a caça de tartarugas, a pesca submarina e o número de visitantes em áreas restritas aumentaram na última década, devido à falta de fiscalização.
(Reportagem da Reuters)