Investing.com - O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou nesta quarta-feira (11) a taxa básica de juros em 1 ponto percentual, elevando a taxa Selic de 11,25% para 12,25%. A decisão foi unânime e, segundo o comunicado, haverá duas novas altas de mesma magnitude nas duas primeiras reuniões de 2025. Foi o último encontro liderado pelo atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Em 2025, a autoridade monetária será presidida por Gabriel Galípolo e terá a maioria dos membros escolhidos pelo atual governo.
A nova taxa Selic veio acima da projeção de alta de 75 pontos-base, de acordo com a mediana do compilado de estimativas de economistas ouvidos pelo Investing.com. O aumento de 1 ponto percentual veio em linha com a precificação na curva de juros, na qual apontava 70% de chances de uma alta nessa magnitude no pregão de hoje, contra 30% de chances de uma elevação de 75 pontos-base.
"O mercado estava dividido entre uma alta de 0,75 e 1%, então a decisão foi mais pesada, foi mais dura. E o comunicado também", avalia Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos e sócio da The Hill Capital.
O que diz o comunicado do Copom
O Copom justifica a aceleração da alta em 100 pontos-base e a adoção do forward guidance para a próxima reunião devido à "materialização de riscos" em um "cenário menos incerto e mais adverso do que na reunião anterior". O colegiado reforça que o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre "indicou abertura adicional do hiato do produto". Isso significa que o crescimento econômico está vindo acima da capacidade da economia, o que gera inflação.
O comunicado também cita a inflação acima do teto da meta e a deterioração da expectativa, com o Boletim Focus projetando um IPCA de 4,8% em 2024 e de 4,6% em 2025, ambos acima do teto superior da meta de inflação, que é de 3% ao ano. Nas projeções do Copom, as estimativas do IPCA estão respectivamente em 4,9% e 4,5%. Para o segundo trimestre de 2026, horizonte relevante da política monetária, a projeção do Copom é de um IPCA de 4% no acumulado de 12 meses, acima da projeção de 3,6% indicado no comunicado da reunião anterior.
No balanço dos riscos, o Copom ressalta a permanência de "uma assimetria altista". O item relacionado à taxa de câmbio foi mais elaborado do que nos comunicados anteriores, citando que a depreciação do real é resultado "da conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário". Os outros itens do balanço de risco se mantiveram, tanto os outros dois altistas (desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado e maior resiliência da inflação de serviços) como os dois baixistas (desaceleração da economia global e desinflação maior do que o esperado no mundo).
Em relação à política fiscal, o comunicado aponta que o recente anúncio do pacote de contenção de gastos impactou negativamente "os preços dos ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco". "Avaliou-se que tais impactos contribuem para uma dinâmica inflacionária mais adversa", enfatizou o Copom no comunicado.
Ao contratar duas altas de mesma magnitude para as próximas duas reuniões, o Copom não indicou a taxa terminal do atual ciclo de alta da Selic. "A magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos", disse o Copom.
"Comunicado me surpreendeu positivamente. Precisava ser duro e realmente foi", diz Bolzan da The Hill Capital. "O Copom preferiu dar um "choque" de alta de juros, para evitar que esse cenário tenha que se perpetuar por mais tempo lá na frente", aponta Idean Alves, planejador financeiro e especialista em mercado de capitais.
O que dizem os economistas sobre o Copom
O mercado deve receber a decisão e o comunicado mais hawkish de forma positiva. "Mesmo que juros elevados sejam ruins para a bolsa, comunicado vai passar um recado importante de que o Banco Central vai buscar convergir a inflação para o centro da meta, então acho que o mercado vai ver isso com bons olhos", avalia Bolzan da The Hill Capital.
Na avaliação de Idean Alves, a bolsa deve abrir em baixa com os juros futuros precificando um cenário de mais altas na Selic. "Acredito que o real deve se valorizar perante o dólar pela atração de fluxo com juros mais altos, que remunera melhor o capital estrangeiro", completa Alves.
O economista André Perfeito concorda com o impacto da decisão na taxa de câmbio. "Podemos ver alguma melhora do real, afinal muito provavelmente seremos, mais uma vez, a maior taxa de juros real do planeta", diz Perfeito, que prevê uma taxa terminal de 15%. "Minha impressão é que devem desacelerar as altas com uma alta de 50 pontos e depois uma final de 25 pontos", completa Perfeito, projetando as duas últimas elevações após as duas altas de 100 pontos-base em janeiro e em março. "E não sei se haverá espaço para cortes no ano que vem", estima Perfeito, apontando incertezas em relação à política econômica do presidente eleito Donald Trump nos EUA e a reação do Federal Reserve (Fed) a elas.
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Confira abaixo o comunicado completo da decisão:
O ambiente externo permanece desafiador, em função, principalmente, da conjuntura econômica nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo segue exigindo cautela por parte de países emergentes.
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo, com destaque para a divulgação do PIB do terceiro trimestre, que indicou abertura adicional do hiato. A inflação cheia e as medidas subjacentes têm se situado acima da meta para a inflação e apresentaram elevação nas divulgações mais recentes.
As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus elevaram-se de forma relevante e encontram-se em torno de 4,8% e 4,6%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o segundo trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 4,0% no cenário de referência (Tabela 1).
Em função da materialização de riscos, o Comitê avalia que o cenário se mostra menos incerto e mais adverso do que na reunião anterior. Persiste, no entanto, uma assimetria altista no balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
O Comitê tem acompanhado com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio. Avaliou-se que tais impactos contribuem para uma dinâmica inflacionária mais adversa.
O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação, dinamismo acima do esperado na atividade e maior abertura do hiato do produto, o que exige uma política monetária ainda mais contracionista.
O Copom então decidiu realizar um ajuste de maior magnitude, elevando a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 12,25% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões. A magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.