Por Andrea Shalal
BERLIM (Reuters) - A agência de inteligência interna da Alemanha pediu na quarta-feira vigilância sobre o aumento das iniciativas de empresas chinesas para investir e adquirir companhias alemãs de alta tecnologia, alertando que a perda de tecnologias importantes pode prejudicar a economia do país.
Hans-Georg Maassen disse que as autoridades de inteligência inicialmente ficaram intrigadas com a forte queda nas atividades de espionagem na China cerca de dois anos atrás, mas depois perceberam que Pequim estava simplesmente usando outras ferramentas legais, como aquisições diretas, para obter acesso ao know-how alemão.
"A espionagem industrial não é mais necessária se alguém puder simplesmente tirar proveito de regulamentações econômicas liberais para comprar empresas e depois estripá-las ou canibalizá-las para obter acesso ao seu know-how", disse ele em uma conferência cibernética.
Maassen afirmou que a Alemanha continua aberta ao investimento estrangeiro, inclusive da China, mas que medidas são necessárias para proteger as principais tecnologias. Ele disse estar particularmente preocupado com a aquisição da fabricante alemã de robótica Kuka por uma empresa chinesa em 2016, devido à sensível tecnologia envolvida.
As preocupações alemãs foram alimentadas por notícias no mês passado de que a operadora de rede chinesa State Grid Corporation tentou comprar uma participação de 20 por cento na operadora de rede alemã 50Hertz, e pelo movimento da chinesa Geely para silenciosamente construir uma participação de 10 por cento na montadora Daimler.
O Ministério da Economia da Alemanha também está revendo uma oferta chinesa pela fornecedora aeroespacial Cotesa, uma medida que poderia levar Berlim a bloquear a venda.
Maassen disse que o investimento estrangeiro pode ajudar a garantir empregos e lucros na Alemanha. "Mas também é preciso ver que certos investimentos diretos em certas tecnologias também podem criar um risco de segurança doméstica", disse.
Permitir que as empresas europeias nos setores de infraestrutura crítica, recursos, de tecnologias sensíveis e de informações sigiloso caiam sob controle estrangeiro "tem como custo os avanços tecnológicos, a segurança e a ordem pública na União Europeia", disse ele.
Karl Wendling, um alto funcionário do Ministério da Economia da Alemanha, disse que as aquisições chinesas de empresas alemãs se estabilizaram em um nível alto, em torno de 14 bilhões de dólares, um aumento enorme em relação ao valor de 530 milhões de dólares em negócios em 2015.
Os investimentos chineses em outros países europeus, incluindo os Bálcãs, também aumentaram no mesmo período.
Nenhum comentário foi imediatamente disponibilizado pela embaixada chinesa em Berlim.
A União Europeia, sob pressão da Alemanha, França e Itália, está trabalhando para concluir um novo mecanismo para rastrear e controlar melhor as aquisições estrangeiras e chinesas de tecnologias sensíveis até o final do ano, disse ele. "Apoiamos o investimento estrangeiro, mas não somos ingênuos", afirmou Wendling.
Maassen disse que a questão era particularmente preocupante no caso da China, uma vez que as empresas privadas chinesas são obrigadas a compartilhar dados com o governo chinês e têm que criar comitês partidários que dão ao governo chinês controle sobre as decisões da empresa.
(Reportagem adicional de Sabine Siebold)