Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil iniciou nesta semana a importação de energia elétrica junto ao Uruguai por meio de operações comerciais intermediadas pela estatal Eletrobras (SA:ELET3), em um intercâmbio que a partir da próxima semana poderá envolver até 570 megawatts médios em eletricidade, disse à Reuters um representante do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
A energia do país vizinho poderá ser em muitos momentos uma alternativa mais barata que o acionamento de termelétricas locais, principalmente em um momento em que as contas de luz dos brasileiros estão mais caras, sob bandeira tarifária vermelha, devido a chuvas fracas que não recuperaram o nível dos reservatórios das hidrelétricas neste início de ano.
"A priori, se mantivermos esse atual custo de operação no segundo semestre, se eles tiverem energia para mandar, provavelmente vai estar em preço mais baixo que a nossa energia, que está em bandeira vermelha", explicou o assessor da presidência do ONS, Marcelo Prais.
O montante que poderá ser transacionado entre os países representa quase a capacidade de produção de uma hidrelétrica de grande porte, como a de Furnas, em Minas Gerais.
As operações passaram a ser realizadas neste mês, ainda com capacidade reduzida a no máximo 70 megawatts devido a restrições na rede, mas deverão ganhar mais força a partir da próxima semana, de acordo também com a evolução da oferta uruguaia.
Segundo Prais, o Uruguai costuma ter excedentes para exportação quando chuvas favorecem a produção de suas hidrelétricas, como a usina Salto Grande, parceria do país com a Argentina, ou quando há bastante vento para impulsionar a geração eólica.
"Se a situação está favorável, eles têm muitos excedentes, e podem ofertar em vários blocos, com preços diferentes. Se eles estão com vertimento (excesso de água nas hidrelétricas), vão oferecer naquela semana a um preço bem baixo, e você caminha para ter menos térmicas acionadas no Brasil", explicou.
Até recentemente, a interligação elétrica entre Brasil e Uruguai tinha capacidade para 70 megawatts e permitia apenas transações que funcionavam na prática como uma permuta --em situações de emergência um país podia enviar energia para o outro, recebendo o mesmo montante no futuro, sem troca financeira.
Mais recentemente foi concluída uma nova conexão que elevou a capacidade de intercâmbio para 570 megawatts, e para o início de maio passaram a ser autorizadas as transações comerciais de compra e venda de energia, a serem conduzidas pela Eletrobras.
"Em princípio, a partir da semana que vem poderemos trazer até 570 megawatts médios, dependendo do que houver de oferta de preço... a expectativa é que a ligação seja cada vez mais utilizada", disse Prais.
Entre 1° e 4 de maio houve três dias com registros de importações junto ao Uruguai, envolvendo cerca de 40 megawatts médios a cada ocasião, de acordo com os registros do ONS.