Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - Uma eventual venda da fatia da construtora Andrade Gutierrez na elétrica mineira Cemig (SA:CMIG4) poderá levantar forte interesse de investidores, pelo grande mercado em que a companhia atua e por seus bons ativos, que se encontram depreciados no momento, disseram especialistas nesta sexta-feira.
Se a entrada de um novo sócio pode ser boa para a elétrica em dificuldades financeiras, a situação da companhia mineira, que ainda pode perder quatro hidrelétricas cujas concessões venceram, pode diminuir os retornos de uma eventual venda pela construtora, segundo analistas.
A Cemig divulgou na véspera que a Andrade Gutierrez rescindiu o acordo de acionistas da empresa e assim ficou apta a vender a qualquer momento suas ações na elétrica, em bolsa de valores ou em mercado de balcão.
A Andrade Gutierrez Concessões (AGC) detém 6,70 por cento de participação total na Cemig, com 20 por cento das ações ordinárias da companhia. A fatia valeria hoje quase 710 milhões de reais, sem considerar um eventual prêmio ante o valor dos papéis.
"A Cemig é um ativo grande, bem valioso... se depreciou nos últimos anos, mas é um ativo de muito valor e que gera caixa fácil. Comprador tem", disse à Reuters o diretor da consultoria Excelência Energética, Erik Rego.
O sócio da consultoria Thymos Energia, João Carlos Mello, disse que o formato da venda das ações definirá o tipo de interessado, mas destacou ver grande apetite pela companhia.
"A Cemig tem ativos muito bons e um mercado muito grande em Minas Gerais, é um negócio fantástico... se for vender em bolsa, pode atrair fundos de investimento... se for uma venda direta, seriam os interessados de sempre, como os chineses e elétricas europeias", disse.
Os especialistas atribuem o movimento da Andrade Gutierrez à busca por caixa em um momento em que a construtora tenta se reestruturar após ser um dos alvos do enorme escândalo de corrupção deflagrado no Brasil, com as investigações da Operação Lava Jato.
Dado esse cenário, a saída da Andrade Gutierrez da Cemig e a entrada de novos acionistas poderia até mesmo ser positiva para a elétrica, que atualmente passa por dificuldades devido a uma elevada dívida e busca vender ativos para se reequilibrar.
"Um novo investidor pode dar uma respirada nova, trazer mais investimento no negócio da companhia", disse Mello.
Os especialistas ressaltaram, no entanto, que o difícil momento atual da Cemig pode reduzir o retorno da Andrade Gutierrez na venda.
As ações ordinárias da companhia são negociadas atualmente a cerca de 8,40 reais, ante um pico de quase 16 reais em agosto de 2014.
Às 11:54, as preferenciais recuavam 0,12 por cento.
Com ativos em geração, transmissão e distribuição de eletricidade, a Cemig é uma das maiores elétricas do país.
A companhia é controlada pelo governo de Minas Gerais, com 17,4 por cento do capital e 51 por cento das ações ordinárias. O BNDESPar possui outros 6,4 por cento da companhia, com 13 por cento das ações ordinárias.
MOMENTO DIFÍCIL
Atualmente, além de enfrentar uma alta dívida e conduzir um programa de vendas de ativos, a Cemig caminha para perder a concessão de quatro hidrelétricas que respondem por quase 50 por cento de sua capacidade de geração.
Os contratos de concessão desses ativos venceram e o governo federal quer relicitá-los, mas a Cemig tem travado uma disputa judicial para manter as usinas.
No momento, o leilão encontra-se suspenso por decisão judicial, enquanto o Tribunal de Contas da União determinou que o governo paralise negociações para um eventual acordo sobre as usinas com a Cemig, com o argumento de que as conversas podem atrapalhar a atração de interessados para a licitação, marcada para o dia 27 deste mês.
"Talvez a Andrade Gutierrez precise de dinheiro e não queira esperar essa briga judicial... podem ter chegado no limite... com a perda de valor nos últimos anos, se ela não vê perspectiva de melhora nos próximos anos, vende", disse Erik, da Excelência Energética.
Procuradas, Cemig e Andrade Gutierrez não comentaram imediatamente o assunto.