Por Bruno Federowski
BRASÍLIA (Reuters) - A disparada do dólar ante o real e o peso argentino provavelmente já chegou ao fim, mostrou pesquisa da Reuters nesta quinta-feira, mas a volatilidade intensa está deixando estrategistas e economistas cada vez mais cautelosos sobre suas próprias previsões.
O dólar deve recuar 8,7 por cento a 3,79 reais em 12 meses, se comparado com o atual patamar ao redor de 4,15 reais, de acordo com a mediana de 30 estimativas coletadas entre 31 de agosto e 4 de setembro.
Seria uma taxa um pouco mais alta do que o resultado de 3,60 reais apurado na pesquisa do mês passado, revisão surpreendentemente pequena após a moeda marcar sua maior alta mensal em três anos no mês passado. O dólar saltou 8,46 por cento em agosto.
Mas esse dado provavelmente não representa adequadamente o quanto os especialistas estão correndo para atualizar suas estimativas. O desvio padrão, uma medida de dispersão, atingiu o maior nível desde maio de 2016, época do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, superando um pico atingido em junho.
Três casas que participam regularmente das pesquisas de câmbio da Reuters pediram para não serem incluídas desta vez, seja porque estavam revisando suas projeções ou simplesmente porque não quiseram se comprometer publicamente.
Não é surpreendente, considerando que o dólar superou as projeções para o fim de agosto de todos os economistas que participaram de pesquisas da Reuters desde o ano passado. Mesmo o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, que ficou mais próximo de acertar o câmbio atual na pesquisa de três meses atrás, minimizou seu feito.
"Em grande parte, foi sorte", disse ele.
Agostini previu que o dólar ficará a 4 reais por um bom tempo, mas reconheceu que isso é mais um chute do que uma estimativa precisa.
"Os fatores que estão afetando o câmbio não vão desaparecer até as eleições e, mesmo depois, muito vai depender do pacote fiscal que será entregue ao Congresso e do que será aprovado. Eu mantive minha previsão a 4 reais, mas não descarto 4,20 nem 3,50 reais".
A afirmação ilustra como as eleições acabaram com qualquer pretexto de projeções objetivas no momento em que problemas locais turbinam o impacto da aversão ao risco em toda a América Latina.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem liderando as pesquisas de intenção de voto mesmo com as expectativas de que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) barraria sua candidatura, o que efetivamente ocorreu na madrugada de sábado passado. Não está claro ainda se o apoio ao petista passará a seu vice-presidente, Fernando Haddad.
Investidores acreditam que Lula e Haddad seriam lenientes com as contas públicas, algo que pode danificar a atratividade do investimento no Brasil e prejudicar a recuperação.
Jair Bolsonaro, que nomeou como seu principal assessor econômico o banqueiro Paulo Guedes, está em segundo lugar, mas ele tem histórico de ir e vir em questões de política econômica e adota posições controversas em relação a questões sociais.
Enquanto isso, o preferido dos investidores, Geraldo Alckmin (PSDB), continua sem ganhar ímpeto.
A maioria dos estrategistas que decidiram mesmo assim participar da pesquisa fizeram algum tipo de média ponderada com vários cenários eleitorais. Mas apenas dois de 30 previram o dólar mais alto do que o patamar atual em 12 meses, sugerindo um consenso de que, em alguma medida, há austeridade no horizonte.
Em contraste, as projeções para o peso argentino se espalharam por todo o lado, variando entre 28,92 a 42 pesos por dólar comparado com a cotação atual de cerca de 39 pesos.
Nenhum dos especialistas que haviam participado da pesquisa do mês anterior revisou sua previsão para baixo, embora a mediana de 10 estimativas sugira que o dólar deve cair 12,2 por cento, a 34,135 pesos em 12 meses. A mediana do levantamento anterior era de 31 pesos.
A eleição no Brasil serve de marco e gatilho para volatilidade, que tende a diminuir quando passar. Já a fraqueza do peso diz respeito à ansiedade generalizada em relação às perspectivas econômicas da Argentina, que não tem data para acabar.
"O banco central tem cada vez menos margem para surpreender, e com crescentes riscos políticos e a confiança abalada dos participantes do mercado, há muita volatilidade no cardápio", escreveram estrategistas do banco Goldman Sachs.
Diminui cada vez mais a convicção dos investidores de que o governo do presidente argentino, Mauricio Macri, será capaz de conter a inflação e o déficit fiscal. Isso levou o dólar à máxima histórica frente ao peso mesmo após autoridades negociarem um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), elevarem fortemente os juros, apresentarem um pacote de austeridade e intervirem no câmbio.
(Reportagem adicional de Miguel Gutierrez, na Cidade do México; Hernan Nessi, em Buenos Aires; Nelson Bocanegra, em Bogotá; Ursula Scollo, em Lima; e Felipe Iturrieta, em Santiago)