Por Francesco Canepa e Balazs Koranyi
FRANKFURT (Reuters) - O Banco Central Europeu prosseguiu com seu primeiro corte nas taxas de juros desde 2019 nesta quinta-feira, citando o progresso no combate à inflação e mesmo reconhecendo que a batalha está longe de terminar.
Em novas previsões divulgadas com o esperado corte de juros, o BCE disse que estima que a inflação ficará em média de 2,2% em 2025 - acima de uma estimativa anterior de 2,0% e portanto acima da meta de 2% do banco central até o próximo ano.
A inflação nos 20 países que usam o euro caiu de mais de 10% no final de 2022 para 2,6%, em grande parte graças aos custos mais baixos dos combustíveis e à normalização da oferta após alguns problemas pós-pandemia.
Mas esse progresso estagnou recentemente e o que parecia ser o início de um grande ciclo de afrouxamento pelo BCE há apenas algumas semanas parece agora mais incerto devido a sinais de que a inflação da zona do euro pode se mostrar resistente, como tem sido o caso nos Estados Unidos.
Ao cortar sua taxa de depósito para 3,75%, de um recorde de 4,0%, o BCE não deu nenhuma indicação sobre se esse movimento será seguido por um novo afrouxamento em julho.
"Não estamos nos comprometendo previamente com uma determinada trajetória de juros", disse a presidente do BCE, Christine Lagarde, em uma coletiva de imprensa, lendo o comunicado do Conselho do BCE.
"Apesar do progresso nos últimos trimestres, as pressões internas dos preços continuam fortes já que o crescimento dos salários está elevado, e a inflação provavelmente permanecerá acima da meta até o próximo ano."
Com a decisão desta quinta-feira, o BCE se junta aos bancos centrais do Canadá, da Suécia e da Suíça, desfazendo algumas das sequências mais acentuadas de aumentos das taxas de juros na história recente.
No entanto, alguns observadores do BCE questionaram a lógica de agir agora, especialmente porque o Federal Reserve foi abalado por algumas leituras de inflação mais fortes do que o esperado, e não se espera que ele aja antes do segundo semestre.
Investidores do mercado monetário reduziram suas apostas em cortes de juros após o anúncio desta quinta-feira e precificavam apenas mais um, com um pequeno risco de um segundo, para o restante do ano.
Questionada se o BCE estava entrando em uma fase de "reversão" de sua política monetária apertada, Lagarde disse que não podia confirmar que esse processo está em andamento, mas que há "uma forte probabilidade".
"No entanto, isso dependerá dos dados, e o que é muito incerto é a velocidade com que avançamos e o tempo que isso levará", acrescentou.
ÚLTIMA MILHA
Dados mais fortes do que o esperado sobre a inflação, os salários e a atividade econômica da zona do euro nas últimas semanas alimentaram os temores de uma "última milha" mais difícil no caminho para a meta do BCE - uma preocupação frequentemente expressa pela influente membro do conselho Isabel Schnabel.
A inflação no setor de serviços, que algumas autoridades têm destacado como especialmente relevante porque reflete a demanda doméstica, tem sido uma preocupação especial depois de ter avançado para 4,1% em maio, de 3,7% no mês anterior.
Ao mesmo tempo, uma recuperação no crescimento também reduziu a urgência para o BCE, minando o argumento de que as taxas altas estão sufocando a atividade econômica.
Entretanto, o verdadeiro elefante na sala pode ser o Fed, e se ele iniciará ou atrasará ainda mais seu próprio ciclo de afrouxamento.
Um Fed mais restritivo provavelmente significaria um euro mais fraco e uma inflação importada mais elevada para o bloco monetário, mas também aumentaria os rendimentos nos mercados de títulos globais - um golpe duplo cujo efeito líquido é difícil de prever.