(Reuters) - A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta sexta-feira que fará um contingenciamento "significativo" do Orçamento da União neste ano para garantir o cumprimento da meta de superávit primário de 1,2 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), admitindo que o país está com desequilíbrio fiscal.
"Esta semana foi aprovado o Orçamento, agora, assim que sancionado, nós vamos... fazer o contingenciamento, que será significativo, não vai ser um pequeno contingenciamento", disse a presidente a jornalistas em Eldorado do Sul (RS), após participar da Abertura da Colheita do Arroz Ecológico.
Dilma reforçou que a aprovação do ajuste fiscal é imprescindível para a economia do país. Segundo ela, quanto antes isso for feito, mais rápido governo e economia sairão do período de restrição.
"É fundamental que nós tratemos do contingenciamento, porque nós temos um objetivo. Qual é o nosso objetivo? É fazer 1,2 por cento de superávit primário. Para fazer isso, nós contamos com as medidas que nós enviamos ao Congresso e também com um processo de redução dos nossos gastos", disse.
"Nós, de fato, temos um desequilíbrio fiscal... nós absorvemos uma parte grande, uma parte imensa da crise que nos atingiu nós absorvemos no Orçamento", argumentou. "Não estamos ajustando porque gostamos de ajustar."
O ajuste fiscal proposto pela presidente, porém, tem enfrentado resistências dos aliados no Congresso, dos movimentos sociais e do próprio PT. Os aliados contestam a falta de clareza dos ajustes e de uma estratégia de médio e longo prazos para que o país volte a crescer.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também contesta a estratégia adotada por Dilma para fazer o ajuste, porque ela não explica aos eleitores por que é necessário fazê-lo.
Já os petistas e os movimentos sociais contestam as áreas escolhidas para os cortes, como benefícios trabalhistas e previdenciários, que ainda precisam ser aprovados no Congresso.
O cenário para aprovação das medidas de ajuste fiscal no Congresso se torna ainda mais difícil porque Dilma enfrenta uma forte crise política com a base aliada, com o maior partido da coalizão no Parlamento, o PMDB, irritado com o tratamento dispensado por ela e pressionando por mudanças no ministério.
"Esse momento de dificuldade é passageiro, conjuntural. Tem gente no Brasil que aposta no quanto pior melhor", reclamou Dilma, que é acusada pela oposição de estelionato eleitoral, por ter dito na campanha eleitoral que o país não precisava de um forte ajuste fiscal.
Como já havia feito em pronunciamento na TV neste mês, Dilma fez um apelo por união. "Só podemos superar essa situação momentânea de dificuldades juntos."
Pouco antes de discursar, Dilma ouviu duras críticas ao ajuste fiscal do líder nacional do MST, João Pedro Stedile, em mais uma amostra das dificuldades políticas de se aprovar integralmente as medidas no Congresso, o que pode colocar em risco o cumprimento da meta de superávit primário.
"Não basta querer acertar o Orçamento da União apenas cortando gastos social, como está lá o ministério da Educação com 30 por cento a menos, ou cortando as moradias, que faz seis meses que não fazem um novo contrato e dizer que tem que cortar seguro desemprego, seguro daqui, seguro dali", atacou Stedile, que o MST fará uma manifestação em 7 de abril.
"Nós queremos o equilíbrio fiscal, mas achamos que quem tem que pagar as contas não é o trabalhador, são os ricos e milionários", acrescentou.
(Por Jeferson Ribeiro, em Brasília)