Por Patrícia Duarte
SÃO PAULO, 13 Jun (Reuters) - A crise política que acertou em cheio o governo do presidente Michel Temer não vai atrapalhar os planos da equipe econômica de reduzir a meta de inflação para 2019, decisão que oficialmente precisa ser tomada neste mês.
Ao contrário: a avaliação é de que neste momento os mercados precisam de notícias positivas e que vão ao encontro de maior austeridade na condução da política econômica.
"O custo de mudar a meta (de inflação) é muito baixo e os ganhos junto ao mercado, elevados. Principalmente, à luz das incertezas que se avolumam a cada dia", afirmou à Reuters nesta terça-feira uma fonte da equipe econômica, sob condição de anonimato.
Temer é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva, entre outros crimes, após delações de executivos do grupo J&F. Com isso, o presidente perdeu força política, que vem alimentando junto a agentes econômicos dúvidas sobre o andamento das reformas, sobretudo da Previdência, no Congresso Nacional.
O Conselho Monetário Nacional (CMN) --formado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento, além do presidente do Banco Central-- define no final deste mês a meta de inflação para 2019. Desde 2005, o centro do objetivo está em 4,5 por cento pelo IPCA, variando apenas a banda de oscilação, que já foi de 2,5 pontos percentuais e passou a ser de 1,5 ponto para 2017 e 2018.
Para a fonte, o centro da meta para este ano pode ser reduzido a 4 por cento, "porque as projeções estão caminhando rápido" para esse nível. "Acho que não faz sentido mudar apenas 0,25 ponto", acrescentou. Mas ir a 4,25 por cento também não está descartado.
Segundo pesquisa Focus do BC, que ouve semanalmente uma centena de economistas, as projeções de alta para o indicador em 2019 estão em 4,25 por cento, em 4,37 por cento para 2018 e em 3,71 por cento para 2017.
Nesta manhã, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Viana, recebeu economistas no Rio de Janeiro e ouviu deles a defesa para a redução da meta de inflação, segundo uma fonte que estava presente ao encontro. Alguns dos economistas sugeriram que o movimento tinha que ser mais forte, outros mais fraco, mas a discussão não focou em números.
Em meio ao cenário econômico ainda bastante frágil e com desemprego elevado, a inflação no Brasil tem perdido força, mesmo com o ciclo de afrouxamento monetário implementado pelo BC desde outubro passado e que já levou a taxa básica de juros a 10,25 por cento ao ano.
Em maio, a IPCA acumulou alta de 3,60 por cento em 12 meses, nível mais fraco desde maio de 2007 (3,18 por cento).
Na noite passada, durante evento em São Paulo, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, afirmou que o país não teve "oportunidade e ousadia" para reduzir a meta de inflação.
(Com reportagem adicional de Marcela Ayres, em Brasílis)