Por Guillermo Parra-Bernal
SÃO PAULO (Reuters) - A Estácio Participações (SA:ESTC3) passou de predadora a presa, com um recente recuo das ações deixando a segunda maior empresa de educação superior privada do país vulnerável a duas ofertas de aquisição não solicitadas feitas por rivais.
A Estácio recebeu no domingo uma segunda proposta de venda, quando a Ser Educacional (SA:SEER3) fez uma oferta de fusão. A Kroton (SA:KROT3) anunciou na semana passada uma oferta de aquisição da empresa toda baseada em ações e avaliada em 3,37 bilhões de reais.
As propostas colocam em cena o que pode ser a maior aquisição hostil no setor educacional no Brasil. O interesse na Estácio assinala a força das empresas privadas de educação, apesar do cenário recessivo que já dura dois anos e dos cortes no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) pelo governo federal.
As ações das quatro empresas de educação listadas na Bovespa tiveram alta, em média, de 21 por cento este ano. A Ser Educacional e a Kroton subiram mais que seus concorrentes listados, depois que cortes de custos geraram caixa necessário para oportunidades de aquisições.
As duas ofertas, no entanto, devem enfrentar provável resistência de acionistas da Estácio e avaliação cuidadosa por parte do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) já que a Kroton ficou com mais do que o dobro de alunos da Estácio após sucessivas rodadas de aquisições.
As ações da Estácio acumularam alta de 40 por cento desde quinta-feira passada, quando a Kroton anunciou seus planos, mas nesta segunda-feira perdiam força depois que executivos da Ser Educacional descartaram possibilidade de melhora na oferta em dinheiro e ações. As ações da Estácio chegaram a subir mais de 7 por cento mais cedo nesta segunda-feira, mas desaceleraram os ganhos para pouco mais de 5 por cento no meio da tarde.
A proposta em dinheiro e ações da Ser Educacional tem "sinergia de custos (...) tornando-se bastante favorável", disse o presidente-executivo da Ser, Jânyo Diniz, a investidores em teleconferência para discutir a oferta.
As ações da Kroton caíam 2,4 por cento.
A Estácio formou um comitê de três executivos para analisar as propostas e, se necessário, fará uma contraproposta para "maximizar o retorno aos acionistas", a expectativa é que a companhia divulgue posicionamento sobre as ofertas nesta semana.
Um crescimento mais lento da receita da Estácio levou a uma queda de 21 por cento no valor das ações no ano até quarta-feira, um dia antes da proposta da Kroton ser anunciada. Já as ações da Kroton e Ser Educacional, que mostraram resistência nos resultdos, subiram 18 e 51 por cento, respectivamente, no mesmo período.
"Anunciar uma proposta desta forma sem efetivamente preparar o terreno, com termos mais estruturados, por exemplo, cria incertezas e deixa espaço para movimentos mais defensivos da Estácio", disse o analista do Credit Suisse, Victor Schabbel, sobre a proposta da Kroton.
O anúncio da oferta da Kroton acabou acelerando os planos da Ser sobre a Estácio, disseram duas fontes próximas da Ser, que preferia ter conseguido ganhar mais estatura e ampliar sua área de ensino a distância antes de partir para a aquisição da rival de maior porte.
"Isso daria para a Ser um pouco mais de musculatura e talvez tivesse outra relação de troca. Mas a ação da Kroton impediu este amadurecimento", disse uma das fontes. A proposta da Ser prevê que os acionistas da Estácio ficarão com cerca de 70 por cento da nova empresa.
Itaú (SA:ITUB4) BBA e Credit Suisse estão assessorando, respectivamente, Kroton e Ser Educacional. O BTG Pactual (SA:BBTG11) é assessor da Estácio.
(Reportagem adicional de Juliana Schincariol e Jeb Blount no Rio de Janeiro e Brad Haynes em São Paulo)