Elena Moreno.
Madri, 13 nov (EFE).- Os olhares dos países ibero-americanos estão sobre a China na hora de pensar em financiamento para o desenvolvimento sustentável, em detrimento a parceiros mais tradicionais da região, como a União Europeia e os Estados Unidos.
A necessidade de buscar recursos para encarar as diferentes dificuldades enfrentadas pelos governos da região motivou o lema da 26ª edição da Cúpula Ibero-Americana, que será realizada no próximo fim de semana em Antigua, na Guatemala.
Apesar disso, o encontro, que contará com representantes de 22 países, será uma oportunidade para aprofundar alianças da região com a Europa, através de Espanha e Portugal, em um momento que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foca no protecionismo e no distanciamento dos vizinhos do sul.
O interesse da China em ocupar o espaço deixado pelos americanos foi destacado nesta semana pelo presidente do país, Xi Jinping. No início da Expo de Exportações de Xangai, Xi disse que a abertura econômica chinesa é um processo que não tem volta, reafirmando a disposição do governo de comprar produtos do resto do mundo.
Maior parceira comercial da região, a China precisa ampliar as importações para satisfazer uma demanda interna crescente. E encontrou nas maiores economias latino-americanas (Brasil, Argentina, México e Chile) um mercado importante para se abastecer.
Nos últimos anos, o governo chinês passou a facilitar financiamento para o desenvolvimento da infraestrutura da região, uma postura diferente de europeus e americanos. Imersos nas suas próprias crises, os parceiros tradicionais da América Latina deixaram de lado esse tipo de repasse de recursos.
Desde 2005, o Banco de Desenvolvimento e o Banco de Importações e Exportações da China destinaram mais de US$ 150 bilhões em créditos aos países e empresas estatais latino-americanas, segundo dados da InterAmerican Dialogue, uma organização sem fins lucrativos que tem sede em Washington.
"A China teve um papel importante como grande compradora de matérias-primas desde 2010, o que fez com que muitas economias latino-americanas como o Brasil, Peru e México, ampliassem as exportações e vivessem um 'carnaval exportador'", disse à Agencia Efe o especialista Luis Prados.
Prados afirmou que investidores europeus e americanos resistiam em apostar em alguns desses países, especialmente após a crise econômica de 2008. Parte dos esforços desse grupo focou na recuperação das economias da União Europeia e dos EUA.
"A América Latina não ficou parada. A crise de 2008 fez com que os países começassem a olhar para outros investidores e parceiros comerciais, como os do Pacífico", disse à Efe a coordenadora para a América da Latina da Fundación Alternativas, Erika Rodríguez.
"A China também olhou para outros lugares. Eles não precisam de ninguém para se posicionar em um mercado e fazem isso por si próprios, sem condicionamentos políticos. (Os chineses) Não querem que ninguém se meta com o regime e também não interferem nos dos outros", destacou a especialista.
Principal pesquisador para a América Latina do Real Instituto Elcano, da Espanha, Carlos Malamud ressaltou que o chineses oferecem condições melhores para os países da região se financiarem.
"Não é que a UE e os EUA estejam olhando para o próprio umbigo, mas na hora de oferecer empréstimos para infraestrutura, a China concede mais prazo, não condições de mercado. Não fazem exigências quanto à corrupção ou direitos humanos", explicou.
"Se EUA e UE fizessem o mesmo, as opiniões públicas recriminariam os governos", completou o professor.
Na Estratégia Global para 2016, a alta representante para a Política Externa da UE, Federica Mogherini, se comprometia a ampliar a cooperação e estabelecer "associações mais intensas com a América Latina, baseadas em valores e interesses comuns".
A secretária-geral ibero-americana, a economista e diplomata costa-riquenha Rebeca Gryspan, disse à Efe que Espanha e Portugal foram "porta-vozes e defensores das relações entre Europa e América Latina".