Por Maria Tsvetkova e Tom Perry
MOSCOU/BEIRUTE (Reuters) - Autoridades norte-americanas rejeitaram nesta quarta-feira a alegação da Rússia de que os rebeldes sírios são culpados por um ataque com gás sarin, e não o presidente da Síria, Bashar al-Assad, e indicaram uma possível ação unilateral em resposta ao que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chamou de uma "afronta à humanidade".
O líder dos EUA disse que o ataque atravessou vários limites, quando perguntado se havia atravessado algum limite, em referência à ameaça de seu antecessor, Barack Obama, de derrubar Assad com ataques aéreos se o regime sírio usasse armas químicas. Não ficou clara qual ação Trump poderia tomar.
Os comentários, feitos dias após Washington ter dito que sua política diplomática para a Síria não estava mais focada em forçar Assad a deixar o poder, ampliou as diferenças entre a Casa Branca e o Kremlin após sinais iniciais de conciliação após a chegada de Trump ao poder.
Segundo a Rússia, Assad não é culpado pelo ataque com gás venenoso em seu país, enquanto países ocidentais, entre eles os EUA, culparam as Forças Armadas de Assad pelo pior ataque químico na Síria em mais de quatro anos, que matou dezenas de pessoas por sufocamento na cidade de Khan Sheikhoun, situada em uma área dominada por rebeldes, na terça-feira.
Washington disse acreditar que as mortes foram causadas por gás nervoso sarin lançado por aeronaves sírias, mas Moscou ofereceu uma explicação alternativa que blindaria Assad: o gás venenoso pertencia aos rebeldes e vazou de um depósito de armas atingido por bombas do governo.
Duas autoridades norte-americanas, falando sob condição de anonimato, rejeitaram o relato russo: "As afirmações russas não condizem com a realidade".
Os EUA, o Reino Unido e a França apresentaram um esboço de resolução ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) que atribui a culpa a Damasco. Mas o Ministério das Relações Exteriores russo chamou a resolução de "inaceitável" e disse que ela se baseia em "informações falsas".
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a Rússia irá levar o caso à ONU culpando os insurgentes pelo envenenamento.
"A Rússia e suas Forças Armadas irão continuar com suas operações em apoio às operações antiterrorista das Forças Armadas da Síria para libertar o país", disse Peskov aos repórteres.
Vídeos publicados nas redes sociais mostraram civis estendidos no chão, alguns em convulsões, outros sem vida. Socorristas limpam os corpos inanimados de crianças pequenas com mangueiras tentando remover os produtos químicos. Pessoas gemem e batem nos peitos das vítimas.
A instituição de caridade Médicos Sem Fronteiras disse que um de seus hospitais na Síria tratou pacientes "com sintomas – pupilas dilatadas, espasmos musculares, evacuação involuntária – consistentes com a exposição a agentes neurotóxicos como o sarin". A Organização Mundial da Saúde (OMS) também disse que os sintomas são consistentes com a exposição a um agente nervoso.
Hasan Haj Ali, comandante do grupo rebelde Exército Livre de Idlib, classificou o comunicado de Moscou responsabilizando os insurgentes de "mentira" e disse que os rebeldes não têm capacidade de produzir gás nervoso.
O incidente foi a primeira vez que Washington acusou Assad de usar gás sarin desde 2013, quando centenas de pessoas morreram em um ataque em um subúrbio de Damasco.