Por Pedro Fonseca
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) anunciou nesta sexta-feira que detectou pela primeira vez a presença do Zika vírus ativo em amostras de saliva e urina, mas os pesquisadores ressaltaram que ainda não foi comprovada a transmissão do vírus por esses meios.
A evidência, baseada na análise de amostras de dois pacientes com sintomas compatíveis com o Zika, sugere a necessidade de investigar a relevância destas vias alternativas de transmissão viral, de acordo com a Fiocruz.
"O Zika vírus foi encontrado de forma ativa, ou seja, com capacidade de infecção, na urina e na saliva", disse em entrevista coletiva o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, no Rio de Janeiro.
Gadelha frisou que ainda não foi comprovada a transmissão do vírus por saliva ou urina, daí a necessidade de estudos adicionais, que já foram iniciados mas ainda não têm previsão de resultado.
"Pode haver um vírus se replicando, crescendo, naquele meio e não necessariamente ele tem a capacidade de passar para outras pessoas atingindo o conjunto dos organismos", disse o presidente da Fiocruz.
De acordo com a pesquisadora Myrna Bonaldo, uma das líderes do estudo, é a primeira vez que se demonstra que o vírus está ativo na urina e na saliva de pacientes.
"(Isso) abre novos paradigmas para entendermos as rotas de transmissão do Zika", disse ela.
Muito ainda permanece desconhecido sobre o Zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo transmissor da dengue e da febre chikungunya.
Quatro de cada cinco pessoas que têm a infecção sequer exibem os sintomas -dores no corpo, febre amena e erupções cutâneas-, mas o Ministério da Saúde confirmou no ano passado a relação entre o Zika e o surto de microcefalia na Região Nordeste do país.
Os casos suspeitos e confirmados de recém-nascidos com má-formação cerebral ligada ao Zika vírus no Brasil chegaram a 4.074 até 30 de janeiro, segundo último balanço do Ministério da Saúde.
CARNAVAL
Apesar de ainda não estar confirmada a possibilidade de transmissão do vírus por meio de urina e saliva, os pesquisadores da Fiocruz recomendaram medidas de precaução para as grávidas no período do Carnaval, uma vez que essa possibilidade tampouco está descartada.
"Na possibilidade de estar em contato com alguém que esteja com características de possibilidde de infecçao, não beijar, evidente", disse Gadelha.
"Situações também que dizem respeito a aglomerações. Se você vai estar numa aglomeração, pessoas se esbarrando, e há possibilidade de a saliva ter contato com a gestante, nós não podemos afirmar hoje que não tem possibilidade de transmissão, então é cautela adicional", acrescentou.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou estado de emergência internacional pelo Zika em 1º de fevereiro, citando forte suspeita de relação entre o vírus em grávidas com a microcefalia.
Cientistas também estão estudando a potencial transmissão sexual do Zika vírus, após relato de um caso suspeitos nos Estados Unidos, assim como investigam a relação entre o Zika e uma rara doença neurológica que enfraquece os músculos e causa paralisia, Guillain-Barre.