Juros futuros recuam após dados de inflação moderados nos EUA
Investing.com — Os índices futuros das bolsas norte-americanas operam em baixa nesta segunda-feira, com os investidores ponderando os desdobramentos do rebaixamento da nota de crédito soberano dos Estados Unidos pela Moody’s. A agência destacou preocupações em relação ao elevado endividamento do país, que segue crescendo diante de discussões no Congresso sobre um novo projeto orçamentário com potencial de ampliação adicional das obrigações fiscais.
Em paralelo, o mercado acompanha atentamente declarações do CEO da Nvidia (NASDAQ:NVDA), Jensen Huang, durante um evento em Taiwan.
No Brasil, os investidores aguardam novas projeções econômicas do mercado para a economia, bem como a “prévia do PIB” de março pelo banco central.
1. Futuros norte-americanos em queda
Às 8 h de Brasília, os futuros do índice Dow Jones caíam 345 pontos (-0,8%), enquanto os contratos do S&P 500 perdiam 66 pontos (-1,1%) e os do Nasdaq 100 recuavam 301 pontos (-1,4%).
Na última sexta-feira, os principais índices de Nova York encerraram a quinta sessão seguida no campo positivo, em meio à repercussão de um acordo comercial entre EUA e China, que reduziu a percepção de risco em relação à política tarifária da administração Trump.
Ainda assim, dados preliminares do índice de sentimento do consumidor da Universidade de Michigan vieram abaixo das expectativas em maio. Além disso, as projeções de inflação para o horizonte de um ano subiram, com as famílias manifestando preocupação com os efeitos das tarifas.
Apesar do desempenho semanal positivo, a atenção dos mercados volta-se agora ao corte da classificação de risco dos EUA. O Secretário do Tesouro, Scott Bessent, minimizou o impacto da medida ao caracterizar as notas das agências como indicadores defasados. Em entrevista à NBC News no domingo, ele afirmou que essa visão é compartilhada amplamente entre os agentes econômicos.
A Moody’s reduziu a nota norte-americana de ‘Aaa’ para ‘Aa1’, citando a magnitude da dívida pública e o custo dos juros, que considera elevados em comparação a pares com nota semelhante. Atualmente, a dívida dos EUA totaliza US$ 36,22 trilhões, segundo o Tesouro.
Em comunicado, a agência criticou a ausência de consenso entre a Casa Branca e o Congresso para conter os déficits fiscais e o crescimento acelerado dos encargos financeiros. Após o anúncio, os rendimentos dos Treasuries subiram na sexta-feira, refletindo a reprecificação dos riscos.
2. Lei de corte de gastos de Trump avança
Enquanto isso, parlamentares republicanos trabalham para aprovar o novo projeto tributário de Donald Trump até 26 de maio. Apesar de divergências internas na legenda, a proposta avançou após aprovação em comitê-chave no domingo.
Quatro membros ultraconservadores do Partido Republicano deram aval para que o texto seguisse adiante, revertendo a obstrução feita no fim da semana anterior. Ainda assim, um dos parlamentares ponderou que os ajustes alcançados estão aquém do necessário.
O projeto inclui a extensão das reduções fiscais de 2017, cortes adicionais sobre determinadas fontes de renda, como gorjetas, e elevação dos gastos com defesa e segurança de fronteiras. Parte da bancada republicana pressiona por contenção mais drástica em programas sociais e pela retirada de incentivos fiscais para iniciativas ambientais. A votação em plenário pode ocorrer ainda nesta semana.
Segundo estimativas de entidades apartidárias, a proposta pode adicionar entre US$ 3 trilhões e US$ 5 trilhões à dívida federal em um horizonte de dez anos.
3. Comentários do CEO da Nvidia
Em Taiwan, Jensen Huang, CEO da Nvidia, apresentou uma nova linha de soluções em inteligência artificial durante a abertura da feira Computex AI. Ao longo de quase duas horas, Huang revelou inovações em hardware para data centers, aplicações em nuvem voltadas ao consumidor final e softwares para robótica.
Entre os destaques, está o NVLink Fusion, plataforma que facilita a construção de infraestrutura de IA por empresas, permitindo integração com chips de outros fabricantes — uma mudança considerada relevante por analistas do setor.
Também foram anunciados supercomputadores pessoais compactos, novos servidores de IA, agentes de software e sistemas voltados a robôs autônomos. As iniciativas serão desenvolvidas em parceria com Acer (TW:2353), MSI, Gigabyte, Marvell (NASDAQ:MRVL), MediaTek, Qualcomm (NASDAQ:QCOM) e Fujitsu.
A apresentação reforçou a estratégia da Nvidia de manter sua posição de liderança em IA, segmento que impulsionou a valorização das ações nos últimos dois anos. Apesar de incertezas recentes sobre a demanda por chips, o mercado aposta que a companhia seguirá dominante, mesmo sob restrições de exportação para a China. Compromissos expressivos de empresas como Microsoft (NASDAQ:MSFT), Meta (NASDAQ:META), Amazon (NASDAQ:AMZN) e Alphabet (NASDAQ:GOOGL), que continuam investindo pesadamente em infraestrutura de IA, reforçam a expectativa de demanda aquecida no curto prazo.
4. Petróleo cai
Os preços do petróleo operam em baixa, devolvendo parte dos ganhos registrados na semana anterior. Às 03h34 ET, os contratos do Brent recuavam 0,5%, cotados a US$ 65,10, enquanto o WTI caía 0,5%, para US$ 61,65 por barril.
Dados mais recentes da economia chinesa trouxeram sinais mistos. A produção industrial superou as projeções em abril, com o setor fabril demonstrando resiliência frente às tarifas norte-americanas. Por outro lado, o consumo doméstico perdeu força, com as vendas no varejo abaixo das expectativas.
O ambiente externo também é afetado pelas implicações do rebaixamento dos EUA, que seguem como o maior consumidor global de petróleo.
CONFIRA: Cotação das principais commodities
5. Focus e IBC-Br no Brasil
No calendário econômico local, os investidores estarão atentos ao boletim Focus, atualização semanal das projeções econômicas por agentes do mercado colhidas pelo banco central, que também apresentará logo mais o IBC-Br, índice que busca antecipar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do país, para o mês de março.
No último relatório Focus, os analistas ajustaram levemente suas projeções de inflação, prevendo alta de 5,51% para o IPCA em 2025 e de 4,50% em 2026, sinalizando o encerramento do ciclo de aperto monetário com a taxa Selic mantida em 14,75% até o fim deste ano. Para 2026, a expectativa para a taxa básica de juros seguiu em 12,50% pela 15ª semana consecutiva.
As projeções para o PIB permaneceram inalteradas, com crescimento estimado em 2,00% para 2025 e 1,70% em 2026. O dólar, que já acumula queda de 8,5% frente ao real no ano, teve suas expectativas de fim de período ajustadas para R$5,85 em 2025 e R$5,90 em 2026.
Em fevereiro, o IBC-Br apontou que a atividade econômica brasileira avançou 0,4%, acima da expectativa de 0,15%, com destaque para o desempenho da agropecuária, que cresceu 5,6% no mês. Sem esse setor, o índice teria registrado retração de 0,2%, refletindo a queda da indústria (-0,8%) e o leve avanço dos serviços (0,2%).
Apesar do crescimento no acumulado de 12 meses (3,8%), o ritmo desacelerou em relação a janeiro, e analistas previam uma economia menos dinâmica em 2025, impactada pela taxa Selic elevada e por incertezas externas.