Por Kate Kelland
LONDRES (Reuters) - Mortes por doenças contagiosas como malária, diarréia e pneumonia devem disparar em países do oeste da África onde um grande surto de Ebola tem sobrecarregado os sistemas de saúde e matado enfermeiros e médicos.
Especialistas em doenças mortais dizem que somente as mortes por malária, que mesmo antes da crise do Ebola já matava cerca de 100 mil pessoas por ano em toda a região ocidental do continente, podem crescer em quatro vezes nos países atingidos pelo Ebola, uma vez que as pessoas podem ficar sem tratamentos que salvariam suas vidas.
Mesmo no atual momento, disse o professor Chris Whitty, da Escola Londrina de Higiene e Medicina Tropical, em Londres, em países que enfrentam o pior do surto de Ebola, "muito mais pessoas estão morrendo de outras coisas que não o Ebola".
À medida que a epidemia continua, as chamadas mortes "colaterais" -incluindo de complicações em partos e condições crônicas como doenças cardíacas- crescerão já que as clínicas de saúde e seus funcionários, que normalmente tratariam dos pacientes, estão sobrecarregados.
Carolyn Miles, chefe da ONG internacional Save the Children, disse que crianças abaixo de cinco anos -das quais estima-se que 2,5 milhões vivam em áreas afetadas- estão em maior risco, tanto de Ebola quanto de efeitos como estresse psicológico causado por país e parentes que estão morrendo.
"Os serviços de saúde do oeste da África estão, em grande escala, entrado em colapso", disse Jeremy Farrar, diretor da entidade filantrópica internacional Wellcome Trust. "Isso significa que mulheres em gestação, pessoas com malária, pessoas com condições como diabetes e pessoas com doenças metais estão todas sofrendo."
"Isso terá uma enorme consequência secundária além do Ebola, não importa quão crítica esta epidemia se torne."
A última atualização da Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que o vírus do Ebola matou quase 3.000 pessoas no surto do oeste africano, que irrompeu neste ano na Guiné e espalhou-se para Libéria, Serra Leoa, Nigéria e Senegal.
A agência de saúde das Nações Unidas diz que pelo menos 208 trabalhadores de saúde na região foram mortos pelo Ebola, de um total de 373 infectados até agora pelo vírus.
Jimmy Whitworth, chefe de saúde populacional da Wellcome Trust, disse que a crise pode fazer com que as mortes por malária quadrupliquem, chegando a 400 mil no próximo ano, com pacientes temerosos em ir a clínicas por medo de contrair Ebola, e, assim, não obtendo o cuidado médico necessário.
Mortes de diarréia e pneumonia, algumas das enfermidades que mais matam crianças na África subsaariana, também crescerão, previu Whitworth, assim como as mortes de mulheres em partos.