Por Leonardo Goy e Anthony Boadle
BRASÍLIA (Reuters) - O governo brasileiro quer investimentos chineses mais diversificados e mais projetos "greenfield" dos parceiros asíaticos, disse à Reuters o secretário de Assuntos Internacionais do Ministério do Planejamento, Jorge Arbache.
Projetos "greenfield" são aqueles que começam do zero, ou seja, que ainda demandam os investimentos inicias para construir o ativo.
É o caso da ferrovia conhecida como Ferrogrão, entre Sinop (MT) e Miritituba (PA), que o governo federal pretende leiloar este ano e que deve demandar investimentos de 12 bilhões de reais para ser construída.
Os chineses, aliás, têm interesse "firme" nesse projeto, segundo o secretário.
"Isso é uma coisa que a gente fala com eles oficialmente. Nós gostaríamos de mais investimentos greenfield. E a segunda coisa que a gente gostaria é de uma maior diversificação dos investimentos, incluindo manufatura e outros setores", disse Arbache. Ele ressaltou que hoje os investimentos chineses são muito concentrados nos setores de energia, mineração e agricultura.
O secretário ressaltou que esse movimento de diversificação já estaria sendo iniciado, inclusive com o interesse da China em setores como saúde e educação.
"Se você olhar em número de projetos, houve um aumento em outras áreas, mas são projetos relativamente pequenos, de 100, 200 milhões de dólares, enquanto os projetos na área de energia somam bilhões de reais", disse.
Arbache disse que os chineses estão interessados em iniciativas como a privatização da Eletrobras (SA:ELET3), assim como investidores europeus, mas não revelou os nomes das empresas que já consultaram o governo.
Segundo a edição de janeiro do boletim bimestral de investimentos chineses no Brasil, elaborado pelo Ministério do Planejamento, entre 2003 e dezembro de 2017 foram confirmados investimentos de cerca de 53,5 bilhões de dólares da China no Brasil, relativos a 93 projetos.
FERROVIA BIOCEÂNICA
Arbache disse que saiu da agenda do governo federal o projeto da chamada "ferrovia bioceânica", iniciativa defendida há anos pelo governo da China para ligar os oceanos Atlântico e Pacífico e favorecer o escoamento de commodities agrícolas e minerais da América do Sul.
O projeto foi anunciado em 2014, ainda no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, durante visita oficial do presidente Xi Jinping ao Brasil.
Segundo Arbache, os estudos apontaram um custo muito elevado para a construção da ferrovia, de cerca de 80 bilhões de dólares.
"Esse pojeto parou, era extremamente custoso e Peru não quer, pois passaria por uma reserva natural importante do país", disse.
Segundo ele, há conversas iniciais para se avaliar uma outra rota, mais ao Sul, que possa ter mais chance de ser viabilizada.
Em dezembro passado, o presidente da Bolívia, Evo Morales, disse que o ambicioso projeto para construção da ferrovia sul-americana se tornou um pouco mais concreto depois que assinou um acordo de cooperação com a Suíça para um novo desenho.
O empreendimento implicará a construção de uma linha férrea de 3.750 quilômetros desde o porto de Santos (SP) até Ilo, no Peru, atravessando a cordilheira dos Andes e ligando os oceanos Atlântico e Pacífico. Morales afirmou na ocasião que os governos do Brasil, Paraguai, Uruguai e Peru apoiam esse projeto.