Por Lisandra Paraguassu e Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - Apesar do discurso de que o Congresso poderá deixar suas digitais na reforma da Previdência, o governo ainda não está preparado para admitir mudanças que possam impactar a meta de economizar 1 trilhão de reais nos próximos 10 anos, o que foi chamado de "cláusula pétrea" da proposta pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
"O que é inegociável é a gente conseguir chegar no 1 trilhão de economia em 10 anos. Isso é inegociável. Como esta fórmula vai ser trabalhada, isso é um espaço para que se possa conversar”, disse o ministro em um evento em São Paulo. “A cláusula pétrea é ter a economia de 1 trilhão, no mínimo, porque isso nos dá a condição do equilíbrio fiscal.”
Da mesma forma, depois de um almoço entre os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e o ministro da Economia, Paulo Guedes, a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) também afirmou que a equipe econômica não abre mão da economia de 1 trilhão.
“O ponto inegociável é o tamanho da economia, na casa do trilhão. Não podemos desvirtuar a reforma a ponto que a economia seja menor que a prevista”, disse Joice.
O encontro foi o primeiro para levar as primeiras impressões do Congresso ao ministro da Economia. De acordo com uma fonte, Guedes ainda não se convenceu da necessidade de ceder para conseguir aprovar a reforma, especialmente quando se trata dos valores.
No entanto, líderes partidários já levaram ao governo que pontos como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e a aposentadoria rural não serão aprovados como estão.
Depois da reunião com o presidente Jair Bolsonaro, na noite de terça-feira, alguns dos parlamentares presentes chegaram a dizer que esperavam que o governo oferecesse logo uma alternativa a esses dois pontos para que se pudesse encaminhar logo o restante da reforma. Aparentemente, não é essa a intenção da equipe econômica.
Fontes da equipe econômica lembram que, ao apresentar o texto, Guedes afirmou que poderiam perder “alguns bilhões”, mas a economia precisa se manter na casa do trilhão. Isso significa que não há muita margem para negociação.
No entanto, a equipe econômica avalia, ao contrário dos parlamentares, que entregar agora a possibilidade de mudar questões centrais da reforma abre espaço para ter que ceder demais ao final.
A líder do governo, no entanto, admitiu que o governo pode discutir questões como o BPC.
À noite, o líder do PSDB, deputado Carlos Sampaio (SP), divulgou nota informando que a bancada fechou questão contra as mudanças no BPC.
“As modificações propostas no BPC são socialmente injustas e não contarão com o nosso apoio”, disse o líder, em nota.
Joice relatou que Guedes "disse que não está fechado para conversar, mas que precisa de uma reforma de uma economia de trilhão”.
“A reforma vai ter a digital do Congresso, mas não pode desfigurar a reforma”, disse a líder do governo.
(Reportagem adicional de Luciano Costa, em São Paulo)