Por Marcela Ayres
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A paralisação dos caminhoneiros que adentra o quarto dia nesta quinta-feira ainda não impactou a economia com força, afirmou uma fonte da equipe econômica, mas ressalvando que o efeito pode ser relevante se o movimento se prolongar por semanas.
"A questão é que a gente está começando a fazer conta. Como foi muito curto, o efeito é provável que não seja relevante. Se ficar por semanas, é provável que seja relevante", acrescentou a fonte, falando à Reuters em condição de anonimato.
Internamente, o time econômico ainda está "procurando caminhos" para calcular esse efeito, mas considera a conta "muito difícil" de ser feita.
Por enquanto, o governo calcula que o Produto Interno Bruto (PIB) do país crescerá 2,5 por cento neste ano, menos do que os 3 por cento esperados antes devido à surpresa negativa da atividade no trimestre passado, em meio à baixa confiança dos agentes econômicos e elevado desemprego.
Nesta manhã, a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) afirmou que os protestos contra a alta dos preços do diesel e a carga tributária no combustível continuarão até que a isenção da alíquota PIS/Cofins sobre o produto, aprovada na véspera pela Câmara dos Deputados, seja publicada no Diário Oficial da União.
A questão representa um impasse pois o governo argumenta que seriam necessários 12,5 bilhões de reais, num cálculo inicial, para cobrir a perda de receitas com a renúncia tributária.
"Não sei qual vai ser a solução dada pra isso. Sei que precisa fazer a compensação (pela perda com arrecadação)", disse a fonte. As contas públicas do país têm sofrido sucessivos rombos
A paralisação dos caminhoneiros prossegue com bloqueios em estradas de todo país, provocando desabastecimento de produtos e enormes filas de motoristas em postos de combustíveis, apesar de a Petrobras (SA:PETR4) ter anunciado na véspera uma redução de 10 por cento dos preços do diesel nas refinarias por 15 dias.
Diversos setores da economia já relatam desabastecimento e prejuízos na exportação.
Economistas consultados pela Reuters consideram que ainda é cedo para avaliar quais cadeias serão afetadas e portanto qual o impacto que a greve dos caminhoneiros terá sobre a atividade econômica do segundo trimestre, preferindo aguardar para ver quanto tempo ela vai durar.
As primeiras impressões poderiam vir com dados como os de produção de veículos e papelão, fluxo nas estradas, consumo de energia ou venda de veículos, de acordo com os especialistas.
"Se acabar essa semana, o impacto é mínimo. Mas se o problema se estender, no mês de junho dará para ter ideia do impacto", afirmou o economista-sênior do banco de investimentos Haitong, Flávio Serrano.
(Reportagem adicional de Camila Moreira, em São Paulo)