Por Lefteris Papadimas e Deepa Babington
ATENAS (Reuters) - O governo da Grécia ofereceu nesta quinta-feira suas maiores concessões até agora em uma corrida para remover obstáculos nas negociações com os credores sobre um pacote de dinheiro em troca de reformas.
O governo do primeiro-ministro Alexis Tsipras, empossado há três meses, está sob crescente pressão em casa e no exterior para chegar a um acordo com os credores europeus e do Fundo Monetário Internacional (FMI) e evitar a falência da Grécia. Uma nova pesquisa mostrou que mais de três quartos dos gregos consideram essencial chegar a um acordo a qualquer custo para que o país permaneça na zona do euro.
Uma equipe ampliada de negociadores gregos deve se reunir com representantes dos credores, o chamado Grupo de Bruxelas, para discutir quais reformas a Grécia vai transformar rapidamente em leis em troca de ajuda. O governo grego diz que precisa de um novo auxílio antes do pagamento de uma parcela de 750 milhões de euros para o FMI, que vence em 12 de maio.
Eleito com base em promessas de acabar com as medidas de austeridade e se desvincular de um impopular programa de resgate da União Europeia/FMI, Tsipras vinha se recusando até o momento a ceder nas questões chamadas de "linhas vermelhas" --reformas trabalhistas e de aposentadorias e vendas de ativos estatais--, que estão no centro da agenda de seu partido.
Mas na noite de quarta-feira o governo grego disse estar pronto a vender uma participação majoritária em seus dois maiores portos e fazer concessões em taxas de imposto de valor agregado e algumas reformas das aposentadorias, no sinal mais claro até agora de que está disposto a recuar em troca de um acordo.
"O governo grego está pronto para uma solução honesta, que vai desbloquear a ajuda financeira dos parceiros e pôr fim à asfixia econômica que os resgates têm causado", disse o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, afastado esta semana das conversações sobre o resgate para apaziguar os credores, em declaração à rádio Sto Kokkino.
O recuo veio depois de um alto funcionário da zona do euro envolvido nas negociações dizer, na quarta-feira, que para garantir um acordo a Grécia teria de fazer uma concessão substancial em pelo menos uma das três questões controversas -- aposentadorias, reforma do mercado de trabalho e tributação.
Para agravar a pressão sobre Atenas, a agência de classificação de riscos Moody's rebaixou na quarta-feira a nota da Grécia devido a temores sobre se um acordo será firmado a tempo de o país cumprir os próximos pagamentos de dívida.
TRIBUTOS
A autoridade grega disse que o país poderia considerar uma taxa de valor agregado sobre todos os bens e serviços, exceto alimentos e livros, e ajustar os pagamentos de aposentadorias complementares, embora insista em que não seriam cortados os valores abaixo de 300 euros por mês.
O pagamento de um 13º aos pensionistas tem sido alvo de críticas de alguns ministros das Finanças da zona euro, cujos países têm sistemas menos generosos, mas estão fazendo empréstimos para a Grécia como parte de um pacote de ajuda da UE/FMI no valor de 240 bilhões de euros.
Sobre o aumento do salário mínimo --uma promessa de campanha de Tsipras à qual os credores se opõem fortemente-–, a autoridade disse que a Grécia iria consultar a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Organização Internacional do Trabalho antes de tomar qualquer decisão.
O ministro do Trabalho, Panos Skourletis, afirmou que a Grécia poderia recorrer a um referendo se houver um impasse com os credores, mas expressou confiança em que seja firmado um acordo que tenha o apoio de parlamentares da coalizão governista Syriza.
(Reportagem adicional de Angeliki Koutantou)